A primeira temporada de X-Men 97, série que dá prosseguimento aos acontecimentos do desenho dos anos 90, é excelente. O episódio final, que estreou nesta quarta-feira (15) no Disney+, conclui os arcos desenvolvidos e leva os fãs dos mutantes à conclusão de que esta é a obra audiovisual definitiva, a melhor adaptação já feita das HQs criadas por Stan Lee.
Só relembrar a abertura, com a música marcante e os personagens que aparecem individualmente, já é uma experiência nostálgica. Aliás, a nostalgia é o impulso que leva o público à série, mas o que vem a seguir é muito mais do que isso.
A tecnologia evoluiu, mas X-Men 97 respeita o estilo dos anos 90. Por outro lado, o roteiro cresceu absurdamente em comparação com o desenho que passava na TV Globo. Agora, as histórias chegam ao público acima dos 30 anos, não mais às crianças, que assistiam antes de ir à escola a um desenho cheio de lutas e disparo de raios.
Menos lutinhas, mais conteúdo
É claro que os X-Men vivem metáforas para questões de ódio às minorias, como antissemitismo, homofobia e racismo. Mas, desta vez, os diálogos, as reações e o desenvolvimento de cada personagem são tão coerentes e precisos que deixam tudo ainda mais profundo.
A permanência dos ciclos e a dificuldade de intervir no que parece imutável é tema recorrente não só em X-Men 97, mas no universo dos mutantes. Magneto, vilão clássico da série, se alterna entre aliado e inimigo. Da vítima do nazismo àquele que se considera membro de uma raça superior, este anti-herói representa muito das relações entre a realidade dos mutantes e o mundo atual.
Ademais, é possível traçar paralelos com os cidadãos fanáticos por líderes políticos, a polarização crescente, o exército de seres não pensantes que fake news criam e guiam. Até a inteligência artificial tem papel crucial no agravamento dos conflitos pelos quais passa a equipe do professor Charles Xavier.
Os dez episódios que compõem esta temporada inicial propõem uma nova linguagem nas adaptações do universo X-Men. Em resumo, menos lutinhas e mais conteúdo. Tem até momentos em que flerta com o terror e, o tempo todo, as relações pessoais são colocadas à prova em um nível até novelesco. Ponto para a Marvel, para a Disney+ e para o entretenimento!
É como diz Chico Barney: X-Men 97 é muito melhor que Renascer.
*João Araújo é jornalista, dramaturgo, documentarista, ator e palhaço