Às quatro da tarde, com o repicar do sino da capela de São Benedito, tambores e caixas se juntaram aos andores de Nossa Senhora do Rosário, Santa Ifigênia e São Benedito, o grande homenageado do dia. O 13 de maio – feriado da Festa de São Benedito em Poços de Caldas – foi, como sempre é, inteiramente dedicado ao santo negro, cozinheiro, exemplo de humildade e sabedoria.
O Grupo de Caiapós do São José abriu a procissão, seguido pelos Caiapós da Vila Cruz, marcando a presença indígena nessa festa sincrética de fé e devoção. O tradicional Terno de Congo São Benedito e seu capitão Benilto trouxeram o Rei Congo, além do embaixador Ailton Santana, o mestre Bucha. “Hoje, 13 de maio, São Benedito é festejado em Poços de Caldas por conta do aniversário do coronel Agostinho, que era devoto desse glorioso santo, que realiza tantos milagres, que cura, que é o santo da alegria e abençoa toda a nossa população”, destacou mestre Bucha.
Congos
Os congadeiros do Terno Nossa Senhora do Rosário, com o capitão Benedito Luiz da Costa, o querido Seu Ditinho, seguiram muito emocionados. Neste ano, saíram em honra da memória de Zilma Maria da Costa Domingos, filha do capitão Seu Ditinho, falecida em fevereiro. Ela, que dançava Congo desde criança e assumiu responsabilidade na Congada por mais de 20 anos, atuando na organização dos figurinos, no cuidado com a alimentação do grupo e nas saídas do Terno pelas ruas da cidade, com certeza teria se orgulhado da belíssima homenagem.
Na sequência, o Terno de Congo Santa Efigênia, com o capitão Paulo César Sousa Franco, o Paulinho, encheu de estrelas as ruas centrais, com sua farda de céu estrelado. O grande terno de Nossa Senhora do Carmo chegou com a batida forte do capitão Renato, trazendo a força da juventude, fundamental para a preservação das tradições.
A ausência mais sentida dos festejos de São Benedito neste ano de 2024 é a da capitã do Terno de São Gerônimo e Santa Bárbara, Dona Orlanda da Conceição, figura central das festividades na cidade. Aos 96 anos, ela não pode participar da festa neste ano por conta de limitações de saúde, mas foi representada por suas filhas e pelos integrantes do seu terno, que entoaram com fé e emoção o canto favorito de Dona Orlanda: “Meu São Benedito, olha a nossa coroa! Eu peço, pelo amor de Deus, ó meu pai, não deixe cair à toa”! A última congada a se integrar à procissão foi o Terno de Congo Nossa Senhora da Saúde, com a capitã mãe Lurdinha, e o branco de seus trajes.
Depois de congadeiros e caiapós, seguiu o andor de Santa Ifigênia (ou Efigênia) da Etiópia, que mostrou o que significa ter fé inabalável. Na sequência, o andor com a imagem de Nossa Senhora do Rosário precedeu o andor de São Benedito, todos rodeados por grande número de devotos. “A cidade para em reverência a São Benedito, o santo cozinheiro. Nós vemos aqui essa multidão reunida para celebrar esse santo que intercede aos céus pela fartura nas nossas casas e nas nossas cozinhas para que não falte o alimento necessário”, afirmou o padre Sandro Henrique, pároco da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, responsável pela capela de São Benedito. Neste ano, padre Sandro Henrique acompanhou toda a programação cultural da festa, estando presente na abertura da capelinha de Santa Cruz e na tradicional retirada dos caiapós do mato.
“A festa de São Benedito é a maior festa religiosa e cultural de Poços de Caldas. São Benedito é o santo de devoção dos poços-caldenses, ao lado de Nossa Senhora da Saúde, é claro, mas há um carinho muito especial por São Benedito. A festa se destaca pela junção de pessoas em torno dela há pelos menos 120 anos, segundo os registros históricos”, ressaltou o secretário municipal de Cultura, Gustavo Dutra.
Missa solene
Antes da procissão, ainda na manhã da última segunda-feira (13), aconteceu a missa solene da Festa de São Benedito, com o bispo diocesano Dom José Lanza Neto. E também com a presença dos Ternos de Congos e Caiapós. “Em Poços de Caldas, hoje celebramos São Benedito, esse santo conhecido de todo o povo brasileiro, tão buscado e celebrado; São Benedito, o negro, recorda para nós também a nossa população negra. Hoje é um dia muito especial para Poços de Caldas”, enfatizou Dom José Lanza. O 13 de maio é o dia solene da Festa de São Benedito, quando sacerdotes, congadeiros e devotos se unem nas celebrações, tanto na procissão quanto na missa.
Cultura, tradição e fé
Realizada sempre de 1º a 13 de maio, a centenária Festa de São Benedito, com as barracas de comidas típicas, a cargo das paróquias participantes, e doces, das instituições socioassistenciais, e trezena na capela de São Benedito. A programação cultural reuniu as manifestações do Dia de Santa Cruz (3 de maio), a tradicional Retirada dos Caiapós da Mata (11 de maio), quando também foi celebrado do Dia do Caiapó, com almoço no pátio da capela, oferecido pelas barracas das paróquias, além das celebrações do dia 13 de maio.
A Festa de São Benedito é encerrada no dia 13 de maio, feriado municipal, por conta da data de aniversário do coronel Agostinho José da Costa Junqueira, nascido a 13 de maio de 1846. Ele fez a doação do terreno onde foi construída a igreja de São Benedito, com a ajuda de fiéis, em agradecimento a uma graça alcançada por intermédio do santo. Coronel Agostinho Junqueira nomeia a praça em frente à igreja.
Tradição centenária na cidade de Poços de Caldas, os Ternos de Congos são a expressão máxima da Festa de São Benedito, realizada ao menos desde 1904, data do primeiro registro preservado que garante a sua execução, ainda na então Freguesia da Nossa Senhora da Saúde das Águas de Caldas.
A festa de São Benedito tem registro como bem imaterial desde 2020. Os tambores reverenciam a fé e a devoção do povo ao Santo Negro, marca do sincretismo tão característico da cultura mineira. A presidente da Associação dos Ternos de Congos e Caiapós de Poços de Caldas, Eduarda Carimbá, ressalta que a festa é de grande relevância para os congadeiros. Elese transmitem a tradição das congadas e a devoção a São Benedito de geração em geração.