Se você não assistiu Bebê Rena, ainda dá tempo. Até porque esta é a série não só do momento, mas a mais arrebatadora deste ano até agora. Nada fez tanto barulho em 2024 quanto a história autobiográfica de Richard Gadd, que roteiriza os episódios e interpreta o protagonista Donny Dunn.
Já no início, a antagonista Martha (Jessica Gunning) instaura a relação abusiva que orienta a obra. Para quem assiste, fica a impressão de que a saída da vítima é fácil, assim como o caminho para a punição da abusadora.
Porém, a narrativa evolui passando por diferentes aspectos deste relacionamento, assim como pela vida pregressa de Donny. O ódio à vilã vai tornando-se frágil, pois esta perseguição é apenas a superfície de duas vidas intrinsecamente machucadas.
É lá no quarto episódio, o maior e mais difícil de assistir, que algumas peças se encaixam. A sensação, ali, é de um constrangimento crescente, do ar que fica mais rarefeito a cada minuto. Assistir o declínio de alguém assim, de uma vez e com tanta personalidade, definitivamente não é fácil.
A série condensa um roteiro ágil, que diz apenas o que deve dizer. Nada está ali por acaso, nem as risadas, nem a raiva, nem o choro. Tudo tem significado, até o último minuto.
Afinal, a proposta é mostrar as diversas camadas de uma mesma situação. Inclusive, a empatia com a antagonista e o julgamento das ações da vítima estão presentes, seja por meio dos personagens ou de quem assiste.
Bebê Rena está disponível na Netflix e também vale a pena pelo entretenimento. Afinal, os 30/40 minutos de cada episódio passam rapidamente e a vontade é de sempre dar o play no próximo.
Agora um apelo:
Netflix, por favor, não faça uma nova temporada.
Sent from my iphon.
*João Araújo é jornalista, dramaturgo, documentarista, ator e palhaço.