Festejar o ano novo na praia virou uma tradição tão forte no Brasil que a maioria das pessoas nem se pergunta qual a origem disso. E muitos outros rituais de passagem de ano estão ligados à praia: pular sete ondinhas, jogar flores ao mar, acender velas na areia… Todos esses costumes estão ligados à cultura e às religiões africanas, mais especificamente ao culto a Iemanjá. Para essas religiões, cada orixá representa uma força da natureza, e Iemanjá é justamente aquela ligada ao mar, além de estar relacionada à ideia de recomeço.
Apesar de ser celebrada dia 2 de fevereiro, uma grande ligação entre Iemanjá e o réveillon começou a partir da iniciativa do pai de santo que fundou a Federação Umbandista de Cultos Afro-Brasileiros nos anos 50. O objetivo era resistir à intolerância religiosa. A grandiosidade do réveillon de Copacabana também se deve a Iemanjá já que os umbandistas que realizavam seus cultos em outras praias do Rio começaram a “terreirizar” a Princesinha do Mar, enfrentando resistência e preconceito. As flores, principalmente palmas, são depositadas no mar como uma oferenda para ela. O babalawô e doutor em História Comparada Ivanir dos Santos explica que o cenário mudou a partir dos anos 1990, quando o réveillon de Copa se tornou um espetáculo mundial.
Também se deve a esses religiosos o costume de vestir branco, já que essa é a cor das roupas litúrgicas utilizadas na hora de fazer as oferendas. Para os umbandistas, essa é uma das cores de Iemanjá e para os candomblecistas, o branco homenageia Oxalá, orixá que representa a vida, a paz e a transformação. O ritual de pular sete ondas também remete a tradições trazidas pelos africanos escravizados. O sete é considerado um número espiritual para religiões de matriz africana. Acredita-se que ao pular as sete ondas, abrem-se os caminhos para superar as dificuldades do próximo ano.
Uma curiosidade sobre a virada do ano é que ela ocorre primeiro na ilha de Kiribati, no oceano Pacífico. A festa no Brasil começa 15 horas depois, com a celebração do ano novo no arquipélago de Fernando de Noronha, em Pernambuco. O último lugar que celebrará a chegada de 2024 será a Samoa Americana.
(Fonte: Agência Brasil)