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A população de Poços de Caldas se registrou na história do Brasil com a primeira heroína
poços-caldense: Laudelina de Campos Mello, que pela Lei nº 14 635, sancionada pelo
presidente Lula e publicada no Diário Oficial da União em 26 de julho de 2023, teve o seu
nome inscrito no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria. Por isso, em 20 de novembro, data
em que celebra Zumbi dos Palmares, a ela a nossa homenagem.
Além dessa honraria, Laudelina foi agraciada com diversas homenagens: em 2015 –
produzido documento Laudelina: lutas e conquistas, resultado de uma parceria entre o
museu da Cidade (Campinas/SP) e o Museu da Imagem e do som; em 2012 –
homenageada pelo Google com um Doogle; em 2005 – recebe do Governo Federal edição
a Ordem do Mérito de Trabalho no grau de Cavaleiro post-mortem; em 2003 (julho) – o
curso preparatório para vestibular Educafro, em Poços de Caldas, toma de empréstimo o
seu nome; em 2002 – a professora Elisabete Aparecida Pinto apresenta dissertação de
Mestrado na Unicamp colocando o nome de Laudelina na evidência da história das
mulheres em suas lutas e, em seguida, o Centro Cultural Afro-Brasileiro Chico Rei com
o apoio do Escritório Político Consciência e Cidadania (da vereadora Tita) traz a
professora Elisabete para apresentar a sua tese de mestrado em Poços de Caldas, numa
grande apresentação no salão nobre do Palace Casino.
O livro da professora Elisabete só foi publicado no ano de 2015: Etnicidade, gênero e
educação: trajetória de vida de Laudelina de Campos Mello, São Paulo: Editora Anita
Garibaldi, com lançamento em Poços de Caldas, no dia 30 de abril de 2016, nas
dependências do Museu Histórico.
No ano de 2021, Francisco Lima Neto publica pela Editora Mostarda, de Campinas, uma
versão de literatura infantil: Laudelina: Laudelina de Campos Mello.
Laudelina foi um exemplo na luta pela defesa das empregadas domésticas, do combate
ao racismo e da integração do negro na sociedade, tendo como base sustentadora da sua
luta o Partido Comunista Brasileiro (PCB), frente a que se integrou no ano de 1936.
Laudelina nasceu em Poços de Caldas, no dia 12 de outubro de 1904, filha de Sidônia e
Marco Aurélio, ambos nascidos “ventre livre”, filhos de escravos da família Junqueira.
Aos 13 anos de idade ficou órfã de pai que, trabalhando no Estado do Paraná, no
desmatamento de araucária, foi esmagado no corte de uma grande árvore. Falecido o pai,
ela teve que ficar em casa para tomar conta dos irmãos enquanto a mãe trabalhava para o
sustento de todos.
Em 1920, junto com outros jovens, Laudelina fundou o Clube Treze de Maio, no alto da
Rua Paraná (hoje Assis), subindo para a Serra São Domingos, espaço necessário para
recreação e laser dos jovens negros discriminados na sociedade estratificada de domínio
branco. Faz parte da diretoria, torna-se sua primeira rainha e, depois, aos 18 anos de idade,
vai para São Paulo em busca de melhor sobrevivência.
O marido, Geremias de Campos Mello, ela conheceu quando ele trabalhava na construção
do Hotel Quisisana. Ela já se encontrava em São Paulo quando se casou aos 20 anos de
idade. Aos 24 anos mudou-se com o marido para Santos, onde foi mãe de dois filhos,
sendo que a menina faleceu ainda criança e o filho Alaor foi o seu braço direito até os 64
anos de idade quando ele faleceu. O casamento durou até 1938, quando se separaram e
cada um tomou o seu rumo na vida.
Na prática política construiu toda a sua trajetória histórica. Em 1936, morando em Santos,
e conhecida como dona Nina, criou o movimento em defesa das trabalhadoras domésticas,
em depoimento para a professora Elisabete: “A maioria delas trabalhava 23 anos e
morriam na rua, pedindo esmolas, lá em Santos, a gente andou cuidando. Cuidou delas
até a morte. Era um resíduo da escravidão, porque era tudo descendente de escravo”. Daí
a criação e instalação da primeira Associação das Empregadas Domésticas. Militou na
Frente Negra Brasileira, entidade instalada em São Paulo, em 1933, com prática social e
política que foi encerrada com a instalação do Estado Novo em 1937, como, também a
Associação das Empregadas Domésticas.
Ao separar do marido foi morar em Campinas onde trabalhou como empregada doméstica
e depois montou uma pensão e, nos domingos, fazia salgados para vender nos campos de
futebol. Suas atividades continuaram. Conseguiu criar uma escola de bailado e aulas de
música para crianças negras e com professoras negras, pois as escolas e professoras
brancas não as aceitavam como alunas. Assim, criou um corpo de bailado para
apresentações com crianças e adolescentes negros.
Na Segunda Grande Guerra se alistou no 1º Batalhão Militar de Santos para trabalhar
como auxiliar de guerra e combater o nazismo, que em sua ideologia pregava a extinção
de todo o povo negro do mundo.
Em Campinas, terminada a Era Vargas, criou o Departamento Doméstico buscado a
conscientização da categoria. E, ainda, nas propostas, a realização de cursos de orientação
sobre cultura negra, conscientização social e política, e da luta por direitos da população negra
contra a violência policial. Em 1950, denunciou a preferência por empregadas brancas para o
qual contou com o apoio do Sindicato da Construção Civil e fundou em suas dependências a
Associação das Empregadas Domésticas.
Em 18 de maio de 1961, na inauguração da Associação Profissional Beneficente das
Empregadas Domésticas de Campinas estiveram presentes cerca de 1200 empregadas
domésticas. A partir de então, ela foi convidada para participar de inaugurações e de
encontros e palestras em diversas cidades do estado de São Paulo e outros estados.
Em 1964, foi presa pelo regime militar implantado no país, logo solta, teve mais uma vez
a Associação fechada. Em 1982 retomou a liderança e a Associação, após a Constituição
de 1988, tornou-se o Sindicato no qual é possível maior amplitude do trabalho. Em 1989,
foi criada a Casa de Laudelina de Campos Mello que objetiva a qualificação e formação
profissional para mulheres negras, troca de conhecimento e combate ao racismo.
Educada que foi na religião católica, a partir de 1927, passou a frequentar terreiros de
religiões de matrizes africanas.
Quando Laudelina faleceu, em 12 de maio de 1991, ela não tinha mais contato com a
família desde a morte da sua mãe, Dona Sidônia, em 1974.
Em Zumbi dos Palmares a nossa inspiração. “Zumbi está vivo dentro de cada um de nós.
A luta continua”…

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