Fabio Bianucci Bertozzi, ou simplesmente tio Fábio, um herói quase anônimo da tragédia da Escola Profissional Dom Bosco, recebeu homenagem de alunos na última segunda-feira (23). Foi ele quem desarmou e segurou o autor dos ataques no chão do pátio da escola até a chegada da Polícia Militar, evitando que ele ferisse mais pessoas.
O motorista de Van aparece em alguns vídeos que circulam nas redes sociais, ele segura o infrator no chão, ele está sentado com os joelhos no chão e impede que o autor fuja. Não dá pra ver nenhuma ação de violência dele, apenas alguns olhares em volta meio que procurando por respostas, até que a polícia chega e ele faz um sinal afirmativo e entrega o jovem à polícia.
A ação de Fábio salvou vidas, trazendo gratidão dos alunos e responsáveis e orgulho dos colegas de profissão. Assim, os estudantes e colegas decidiram que ele merecia uma singela homenagem. Com bexigas e cartazes na mão, eles o aguardaram na porta da escola ontem e fizeram muita festa.
O motorista, ao ver a homenagem, passa por entre os alunos, recebe alguns abraços e segue demonstrando carinho aos estudantes. A direção da escola também fez um cartão de agradecimento ao motorista.
Ação
A esposa de Fabio, Neiva Bertozzi, é quem conta com exclusividade à reportagem do Poços Já como foi aquela tarde e como o marido agiu rápido.
O casal trabalha em família e leva a filha de 14 anos para os ajudar, são nove anos trabalhando com transporte de alunos somente na escola e naquele dia tinham 33 alunos em sua responsabilidade.
Naquela datam, saíram de casa para buscar os alunos como sempre, estacionaram as vans e seguiram. Do lado de fora o infrator atacou três pessoas e entrou pelo portão. Fábio, que vinha saindo, cruzou com ele próximo ao portão e viu a faca. Imediatamente, ele avisou a funcionária da portaria e retornou para a escola, seguindo o rapaz.
Foi quando o infrator atingiu a quarta vítima, a aluna de 13 anos, dentro da escola. “Sem acreditar no que estava vendo, Fabio olhou para o lado e viu uma lixeira azul, ele chamou pelo rapaz perguntando se ele estava louco e quando ele se virou para responder o Fábio acertou a lixeira em sua mão, a faca caiu no chão, ele pegou a faca com uma das mãos e com a outra o imobilizou, subindo em cima dele, que não reagiu”, conta Neiva.
Muita gente ainda não sabia o que estava acontecendo e alguns pais chegaram a dizer para o motorista parar, até que a notícia de vítimas caídas na calçada se espalhou. Neiva conta que foram cerca de 25 minutos até a chegada da polícia.
Do lado de fora a esposa também demonstrou seu ato de heroísmo, ela estava na van esperando os alunos quando começou a correria. Imediatamente ela colocou seus alunos para dentro, fechou os vidros e trancou as portas e foi para a van do marido garantir que os alunos dele e ele estavam bem.
“A van dele é a segunda perto do portão, quando cheguei lá ele não estava, mas os amigos avisaram que ele estava lá dentro, com o rapaz. Fiquei preocupada, mas permaneci acalmando os alunos que gritavam muito, porque os meninos estavam caídos bem em frente e ainda tínhamos medo de ser mais de um assassino. O pânico se instalou e assim que polícia chegou tratamos de sair dali imediatamente”, conta.
Os motoristas seguiram para casa e foi ao prestar depoimento na delegacia que tiveram a dimensão do que passaram ao assistir a filmagem das câmeras de segurança da escola que mostram o momento em que Fábio desarma o infrator.
“O Fábio fez o que tinha que ser feito, com as armas que ele tinha e, sem dúvida, com a ajuda de Deus. “Sabemos que ele evitou uma tragédia maior ainda porque o rapaz não ia parar. Sabemos que ele correu risco de vida”, acrescenta. “O delegado nos disse que desarmar alguém com faca é na maioria das vezes um resultado desastroso”, acrescenta.
Mas, casada há 20 anos com Fábio e juntos há 28 anos, com uma família de três filhos, Neiva sabe que não seria diferente. “Ele é assim! É o jeito dele mesmo, de tomar pra si o momento, ele ajuda alguém empurrar o carro na rua, ele tira o pombo machucado do asfalto, enfim, tem um grande coração, é um exemplo para os filhos e contou com a ajuda de Deus, não agiu sozinho”, finaliza.
O caso
Em 10 de outubro um jovem de 14 anos, ex-aluno da escola, foi até o portão da rua Campestre, armado com faca e usando uma balaclava atacou alunos que deixavam a instituição.
Os ataques culminaram na morte de Leonardo Willian Silva, de 14 anos, e deixou três pessoas feridas, Laura Cristina Zaneti e Gabriel Henrique Cezário, ambos de 13 anos, e a monitora de uma van escolar, Laura Garcia, de 17 anos, que conseguiu parar os ataques.
O autor do crime foi apreendido, encaminhado ao presídio e transferido para uma unidade socioeducativa onde aguarda decisão judicial. Ele afirmou que cometeu o crime em represália ao bullying que teria sofrido de colegas enquanto era estudante da escola.
A mãe dele também chegou a se pronunciar sobre os fatos, dizendo que pediu ajuda para tratar o filho, mas não teve apoio.
Por conta dos fatos, o secretário estadual de Educação, Igor de Alvarenga, esteve na cidade, em nome do governador Romeu Zema, prestando sua solidariedade e apoio aos familiares das vítimas e à comunidade escolar.