Uma mistura de 27 diferentes tipos de agrotóxicos foi detectada na água consumida por parte da população de 210 municípios brasileiros. Poços de Caldas é citada entre as 23 cidades do Estado de Minas Gerais que manifestam o problema. No sul de Minas, são oito cidades no relatório: Campo Belo, Jacutinga, Nepomuceno, Paraguaçu, Paraisópolis, Poços de Caldas, São Lourenço e Três Pontas.
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As informações são resultado de um cruzamento de dados realizado pela Repórter Brasil a partir de informações do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde, com testes feitos em 2022.
DMAE
Em nota, o Departamento Municipal de Água e Esgoto, diz que não há fundamento científico comprovado no chamado “efeito coquetel”.
“O DMAE cumpre rigorosamente a Portaria Normativa Conjunta do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam)/Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH-MG) de agosto de 2022 para águas de captação das nossas estações de tratamento, e a Portaria 888 do Ministério da Saúde para a água pós-tratada e distribuída para a população. O laboratório do DMAE realiza análises periódicas seguindo critérios técnicos para assegurar o fornecimento de água dentro do que preconiza as vigentes leis, sendo que todos os elementos que poderiam causar qualquer tipo de problema à saúde dos consumidores, em níveis mais elevados, não foram evidenciados. Frisamos não haver fundamento científico comprovado no chamado “efeito coquetel”, que afirma poder haver uma interação entre possíveis substâncias presentes na água, como agrotóxicos, que causariam efeito danoso ao organismo. O DMAE, no exercício de sua função e nas análises realizadas pelo laboratório, garante a qualidade da água desde a sua captação e tratamento até a distribuição para os nossos consumidores”.
Efeito coquetel
A maioria dos exames identificou uma concentração dentro do limite considerado seguro pelo Ministério da Saúde para cada tipo de substância isoladamente. Ou seja, a simples presença de cada agrotóxico em uma amostra não necessariamente acarreta problemas para a saúde.
No entanto, a regulação brasileira não leva em conta os riscos da interação entre os diferentes tipos de pesticidas. É justamente a mistura de substâncias o que preocupa especialistas ouvidos pela reportagem. Eles afirmam que o chamado “efeito coquetel” pode gerar consequências ainda desconhecidas ao organismo humano.
Falta regulação
Enquanto a União Europeia impõe um limite para a presença de diferentes substâncias na água, o risco da mistura é ignorado pela normativa do Ministério da Saúde. A pasta teve a chance de regular essa questão em 2021, quando a nova Portaria de Potabilidade da Água foi aprovada, mas tratou apenas dos limites individuais.
O principal argumento é a dificuldade em calcular os efeitos causados pelas diferentes combinações de substâncias químicas na água.
“O ideal seria não detectar, ou seja, não encontrar nada”, afirma Cassiana Montagner, pesquisadora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). “Mas quando há a detecção, ainda que em concentrações menores que o valor máximo permitido, os governos deveriam tomar ações para evitar que esses agrotóxicos apareçam por longos períodos de tempo”, complementa.
Ela destaca que o risco é maior quando o consumo é contínuo, ou seja, quando a presença das substâncias na água persiste ao longo dos meses e anos. Nesses casos, 15 dos pesticidas encontrados estão associados ao desenvolvimento de doenças crônicas como câncer, disfunções hormonais e reprodutivas.
Segundo a pesquisadora, as estações de tratamento não conseguem retirar os agrotóxicos da água na concentração encontrada no Brasil. Assim, a melhor solução é evitar a contaminação.
(Fonte: Repórter Brasil)
