Depois de pouco mais de um ano de pandemia, as incertezas continuam. O quadro é ainda desalentador. Já chegamos a mais de 400 mil mortos com praticamente 15 milhões de contaminados e ainda temos dificuldades para lidar com a doença, sem definição para abordagem correta e desencontros em relação as medidas profiláticas. Até mesmo o uso de máscara é banalizado e as restrições às nefastas aglomerações são descumpridas a todo momento.
Neste panorama sombrio e incerto, medidas “salvadoras” aparecem, evidentemente sem qualquer resultado consistente. As vacinas, estas sim, porto seguro para o desembarque de nossas aflições, chegam em velocidade reduzida, mas chegam.
Países com índices elevados de vacinação por habitante já apresentam resultados positivos, com liberação inclusive de medidas restritivas, tais como Israel, Inglaterra e, agora, os Estados Unidos.
A produção e aquisição de vacinas seguiu rumo desordenado em todo o mundo, destacando-se positivamente, no entanto, países mais ricos e os mais desenvolvidos tecnologicamente. A outros faltou agilidade e mesmo interesse em aquisição mais rápida.
A OMS (Organização Mundial de Saúde), respeitável entidade sanitária universal, só agora se manifesta com alguma objetividade, participando da liberação de vacinas através do consórcio Covax Facility, ainda que em quantitativo não tão expressivo. Recebemos desta entidade, até o momento, 4 milhões de vacina Astrazeneca. Penso que a OMS deveria ter atuado na quebra de patentes de países produtores de vacina, facilitando assim sua produção com custos mais baixos. O Brasil fez isso com êxito com os medicamentos para Aids, por iniciativa de José Serra quando Ministro da Saúde. Joe Biden, presidentes dos EUA, toma agora essa iniciativa, cujos resultados esperamos que seja positivo.
Não bastassem todas as dificuldades nós vimos ainda as voltas com a politização miúda da vacinação. O Governo Federal desentendendo-se com Estados e Municípios, empresas privadas querendo furar a fila com a compra e distribuição indevida de vacinas, alguns governadores e prefeitos fazendo oposição ao SUS, desrespeitando suas regras e inclusive desmerecendo a Anvisa.
Até o STF, de atuação tão discutível ultimamente, dita regras em assunto essencialmente técnico. Se a vacinação tem tido algum resultado positivo, coerente e justo, muito se deve a estrutura e filosofia do SUS. Por outro lado, a segurança com relação a eficiência das vacinas tem sido dada pela competência técnica inquestionável da Anvisa.
Merece destaque com louvor a atuação dos profissionais de saúde. A dedicação, a competência, a coragem e o caráter humanitário de sua atuação têm tido merecido destaque na mídia nacional. Milhares desses profissionais foram contaminados e lamentavelmente, muitos perderam a vida. Nossa homenagem emocionada aos mais de 1.000 médicos, enfermeiros, técnicos, dentre outros.
*Este artigo não representa, necessariamente, as opiniões do Poços Já. Carlos Mosconi é secretário de Saúde de Poços de Caldas. Médico urologista, graduado pela Universidade de Brasília. Foi deputado estadual por duas legislaturas e federal quatro vezes, além de secretário de Saúde do Distrito Federal, presidente do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) e relator da constituinte do SUS.