A semana que passou foi marcante na evolução da pandemia em Poços de Caldas. A cidade registrou uma queda brusca na ocupação de leitos exclusivos para covid-19 e o secretário de Saúde, Carlos Mosconi, após testar positivo e cumprir o isolamento domiciliar, anunciou o retorno ao trabalho presencial.
Em entrevista exclusiva para o Poços Já, Mosconi comenta esses assuntos. Ele ainda informa que os parques Municipal e Ecológico serão abertos em breve e que a cidade está perto de chegar à onda verde do programa Minas Consciente.
Poços Já: Como foi o período de recuperação da covid-19?
Mosconi: Experiência ruim, porque assusta. Assusta todo mundo, familiares, amigos, pessoas com quem a gente trabalha. Quando eu tive o exame positivo eu fiquei preocupado porque eu tinha vindo trabalhar nos dias anteriores. Eu já tinha contato com familiares que testaram positivo, mas fiz exame e deu negativo, aí eu vim trabalhar. Quando eu tive esse sintoma forte fiz exame e deu positivo, então fiquei preocupado e com receio de ter passado para alguém. Foi combinado aqui, dentro das normas, qual dia que seria adequado pra fazer exame do povo que trabalha comigo. Todo mundo testou negativo e isso me deu uma grande tranquilidade. Eu fui muito bem tratado, a orientação médica foi muito adequada. Eu superei, minha esposa superou, ela não teve sintomas, felizmente. Agora estou em uma fase de recuperação. Não tenho mais vírus nenhum, mas a doença não foi totalmente embora. Tenho ainda um pouco de cansaço, falta da disposição total, plena, que eu sempre tive, mas essas coisas vão chegando.
Poços Já: Quais sintomas o senhor teve?
Mosconi: Eu tive dor no corpo que eu nunca tinha tido na minha vida. Não dormi à noite, de dor no corpo, e liguei para o Mário Krugner, médico infectologista, fizemos o exame de PCR, rápido, deu positivo. Depois eu tive sintomas de gripe, espirrei muito, mas não cheguei a ter falta de ar. Tive uma pequena diminuição da saturação de oxigênio e fiz uma tomografia do pulmão, que mostrou um pequeno velamento na base do pulmão. Depois eu tive um forte sangramento intestinal, que não estava no programa e me levou para a UTI do hospital. Felizmente, o sangramento depois de um certo tempo parou, eu não precisei tomar sangue, mas tive que ter os cuidados necessários. Os sintomas que tive depois disso foram um cansaço enorme, falta de disposição para tudo e completa falta de apetite.
Poços Já: E ocorreu algo inusitado, quanto ao zumbido no ouvido.
Mosconi: Eu tenho um zumbido no ouvido esquerdo, com perda parcial da audição, faz anos. Agora o zumbido sumiu, desapareceu. Eu acordo à noite e falo “Meu Deus, cadê o zumbido? Desapareceu”. Eu espero que ele não volte, mas isso também é um sinal de preocupação, quer dizer que o vírus andou no meu cérebro. Podia ter feito uma coisa ruim.
Poços Já: Sobre o cenário municipal de pandemia, qual o motivo da queda na ocupação dos leitos de UTI exclusivos para covid-19?
Mosconi: Esse foi um problema que nós tivemos, que nos preocupou demais, porque de repente cresceu, foi lá pra cima, mais de 50%. Nós fizemos avaliação, auditoria, colocamos os protocolos do Ministério da Saúde. Esses protocolos têm que ser seguidos, mas houve uma certa divergência na aplicação. No fim permaneceu o bom senso e permaneceu a regra.
Poços Já: O que mudou exatamente?
Mosconi: Os leitos de clínica médica para o covid passaram a ser utilizados de forma adequada, o que não estava acontecendo. Estava acontecendo de alguns pacientes irem para a UTI sem necessidade. Havia um aumento da incidência da UTI e praticamente uma inexistência de ocupação dos leitos clínicos. A razão prevaleceu. O paciente não precisa ir para a UTI nem ser entubado, muitas vezes. Nós poderíamos ter caído para a onda vermelha se houvesse a prevalência dos dados que estavam inadequados. Mudou dentro do que é absolutamente normal e ficamos tranquilos em poder dizer que isso tudo está dentro do boletim.
Poços Já: Quais devem ser os próximos passos na reabertura?
Mosconi: A nossa tendência no Comitê Covid é abrir mais. Vamos abrir os parques Municipal e Ecológico e eu sou defensor da música. Tudo com restrições e contingenciamento pode abrir. Nós temos a oportunidade de talvez ir para a onda verde na próxima semana. Nós vamos manifestar que queremos abrir, que podemos abrir, e não queremos transgredir o Minas Consciente. O que estiver de acordo vai embora, o que não estiver nós temos que esperar a onda verde, que poderá ocorrer semana que vem.
Poços Já: O decreto que autorizou reuniões até 30 pessoas, sem considerar como aglomerações, foi criado como? Qual o critério para chegar ao número de 30 pessoas?
Mosconi: Isso é de acordo com a possibilidade de contingenciamento, pode ser até mais, pode ser menos, depende do tamanho do local. Se tem um evento em igreja, com 300 metros (quadrados), você pode colocar mais pessoas. Tem que ser analisado caso a caso. Por exemplo: vai poder ter eventos? Eu acho que poderia pensar em ter, desde que haja contingenciamento, uso de máscaras, que seja rápido, sem haver aglomeração. As pessoas juntas eu não acho que seja viável. Mas, se houver esse cuidado, acho que poderia avançar.
Poços Já: As campanhas eleitorais começam em breve. Como o senhor acredita que será a adaptação a esse período?
Mosconi: A pandemia mudou o perfil da eleição. É um processo coletivo, comunitário, é importante e tradicional. Agora vai ter que ser diferente, acho que as redes sociais, os meios de comunicação, vão ser muito utilizados, sem comício. Tem que ter criatividade para poder chegar a mensagem ao eleitor, isso vai ser necessário.