Estamos convivendo com o Coronavírus, doença viral chamada Covid-19, que começou na China e em pouco tempo se espalhou pelo mundo, tendo atingido até agora mais de cinco milhões e quatrocentas mil pessoas e vitimado mais de 345 mil pessoas, dados do início desta última semana de maio.
Algumas lideranças mundiais, dentre elas, Bill Gates e Barack Obama, tinham previsto e anunciado há algum tempo, coisa semelhante. A guerra, segundo eles e também alguns cientistas, não seria mais nuclear e nem fria, mas sim, epidemiológica, como está acontecendo. Verifica-se agora que o mundo não se preparou para isso, nem mesmo as nações mais poderosas e melhor estruturadas têm enfrentado a epidemia com a devida competência. É impressionante observar as indefinições a respeito da abordagem do assunto, sem falar da falta de tratamento específico para o vírus. A discussão se deve ter, por exemplo, isolamento ou não, e por quanto tempo seria adequado, qual a sua dimensão, variando desde um simples isolamento social até um lockdown, são questões colocadas, muito importantes mas com resultados difíceis ou até impossíveis de mensurar.
O Brasil, infelizmente, é um exemplo de falta de rumo. Além de não ter ocorrido uma decisão clara das maiores autoridades, tanto do Governo Federal, quanto dos Governos Estaduais, ocorreu uma descentralização da incompetência. Infelizmente, temos hoje, 26 de maio, 374 mil 898 infectados e 23 mil 473 óbitos. O que fica claro na análise desta trágica doença é que o nosso país não pode mais conviver com a dramática falta de saneamento básico, de infraestrutura mínima de moradia, e com esta injusta e perene diferença social. O que tem atenuado esta problemática é a existência do SUS, este Sistema Único de Saúde que, pelo menos, é uma porta de entrada para a população menos assistida, para muitas pessoas, a única porta de entrada. Mas não é suficiente.
Fiquei estarrecido quando ouvi um médico norte-americano dizer, durante esta pandemia que os Estados Unidos não tinham estrutura de saúde para enfrentar a doença e que a medicina dos Estados Unidos é considerada um negócio. Lá, eles não conseguiram a aprovação para um plano de saúde que possuía alguma semelhança com o nosso, com o SUS. Há muitos anos e agora ainda mais, espero que os governantes brasileiros destinem ao nosso sistema de saúde, o real valor que ele possui, estruturando-o de maneira a atender a população brasileira, sem o sobressalto que vivemos agora, por falta daquilo que já deveríamos ter: pessoal qualificado em número suficiente e leitos habilitados para o atendimento pleno de todos.
O vírus tem grande transmissibilidade, com taxa de letalidade entre 5% e 10% das pessoas atingidas. A incidência se dá em mínimas proporções em crianças, pequena proporção em jovens, crescendo em adultos e, especialmente em idosos, onde a letalidade é maior, especialmente em pacientes com comorbidades. O tempo de encubação varia entre 5 e 14 dias e os sintomas podem ser leves, tal qual uma simples gripe, chegando a até uma insuficiência respiratória grave. No primeiro caso, uma simples quarentena com isolamento completo em casa, resolve. E no segundo caso, a internação em leito clínico ou UTI, com o uso de respiradores nas situações mais graves, se faz necessária. Inúmeros estudos epidemiológicos têm sido feitos para avaliar a evolução da doença, que no gráfico apresenta uma curva inicialmente baixa e, depois de algum tempo, cresce agudamente, apresentando um pico que pode ser bem elevado e em seguida, diminuindo até um quantitativo bem menor, de duração indefinida.
Todas as medidas preconizadas visam a prevenção da doença e a diminuição do pico maior, facilitando ou possibilitando assim, recursos hospitalares para os pacientes. Não existe ainda tratamento específico e nem vacina contra o novo coronavírus. Os cuidados adotados, tais como, higienização das mãos com água e sabão ou álcool 70% e o uso de máscaras, são preventivos e muito úteis. O isolamento domiciliar, causa de grande polêmica, é a ação de maior impacto na diminuição da transmissão do vírus. O questionamento em relação a isso se dá pelas consequências sócio econômicas que gera, causando desemprego, queda de receita e grande déficit econômico em todos os níveis, seja público ou privado. A definição do ponto de equilíbrio entre a questão da saúde e da economia, requer, além da ciência, grande sensibilidade, dose elevada de generosidade e muita coragem. Mas, acima de tudo, precisa prevalecer a defesa da vida!
Aqui em Poços de Caldas adotamos as medidas clássicas em tempo hábil, com o fechamento do comércio como um todo. A colocação das barreiras com consequente restrição ao turismo, foi fundamental para a contenção da transmissão do vírus. Lamentável no entanto, o prejuízo para a atividade turística. Depois de 25 dias de flexibilização do comércio, pós-quarentena, temos tido um aumento dos casos, que seria esperado, tudo dentro do previsível e da possibilidade de atendimento. A rede pública, através das unidades básicas de saúde, UPA e Hospital Municipal Margarita Morales, tem dado boa resposta e a lotação de leitos na rede hospitalar se encontra hoje, muito aquém da ocupação que seria preocupante. Os hospitais conveniados com o SUS – Santa Casa e Santa Lúcia – e os privados – Unimed e Poços de Caldas – têm agido com critério e competência. Temos ainda como reserva, o antigo Hospital São Domingos, cedido pelo Doutor Luciano Incrocci e, sendo montado agora, como Hospital de Campanha. Deve entrar em funcionamento no próximo mês, se necessário for.
A solidariedade tem se manifestado intensamente. Temos recebido doações de grande valia, de particulares e empresas, praticamente suprimindo nossas necessidades. O Ministério da Saúde, também em boa hora, providenciou recursos financeiros para o enfrentamento e alguns parlamentares dispuseram emendas para a mesma finalidade. Vale ressaltar a dedicação dos servidores da saúde em todos os níveis, trabalhando com disposição e grande sentido humanitário, para atender a população aflita. Estamos sempre temerosos, mas prontos para enfrentar a grave pandemia. E que ela passe rápido!!!
*Carlos Mosconi é médico urologista e, como relator da Constituinte de 1988, teve participação direta e fundamental na criação do SUS, o Sistema Único de Saúde. Ex-deputado federal, ex-deputado estadual, atualmente é Secretário Municipal de Saúde de Poços de Caldas