O poços-caldense Lino Bento se mudou há sete meses para Dublin, na Irlanda, para fazer intercâmbio. Com uma semana de isolamento para se recuperar de uma gripe e cumprindo outros 14 dias de quarentena impostos pelo governo do país, ele conversou com o Poços Já e falou sobre a rotina de confinamento, as preocupações com o novo coronavírus e as mudanças que a pandemia trouxe para irlandeses e imigrantes.
Dividindo um apartamento pequeno com outras quatro pessoas na capital irlandesa, Lino lembra que o país está saindo do inverno e que a época é propícia para gripes, resfriados e outras doenças respiratórias além da covid-19. “Muitos colegas com quem conversei ficaram gripados. Aqui, optei por usar máscara para evitar o contágio dos colegas. Durmo com outras duas pessoas no quarto e como eu fui a primeira pessoa a ficar gripada, acabei passando para a minha colega de quarto, que teve uma recuperação rápida”.
O poços-caldense diz que está praticamente recuperado, mas que passou por certo constrangimento. “Acabo ficando sem jeito aqui em casa, porque as pessoas se sentem ameaçadas”.
Perguntado se os sintomas de gripe poderiam ser na verdade de coronavírus, Lino diz que a médica portuguesa que o visitou descartou a possibilidade, mas recomendou a quarentena por precaução. Também por segurança, ele entrou na fila para o teste da covid-19, mas há mais de 40 mil pedidos à frente.
Quarentena
O poços-caldense conta como tem sido a rotina de quarentena. “Acordo de manhã, tomo um café, fico um tempo no celular, mas não leio notícias. Assisto séries, tenho feito comida, tomado bastante chá, praticado exercícios, dançado. Passo um tempo no terraço fazendo meditação. Às vezes eu saio para comprar alguma coisa num mercadinho aqui embaixo, mas a gente evita ficar muito tempo na rua. Especialmente porque tá muito frio, estamos chegando no fim do inverno, os casos de coronavírus têm aumentado, tem gente morrendo aqui também”.
Lino fala ainda da dificuldade financeira, depois do shopping em que trabalha ter fechado devido à pandemia. “Tem a preocupação com dinheiro, com o que comer. Mas os estudantes que perderam o emprego ou foram afastados do trabalho preencheram um formulário de auxílio do governo irlandês, que se dispôs a pagar € 203 durante seis semanas e eu fui um dos contemplados”, relata.
Uma das celebrações mais tradicionais do país, o St. Patrick’s Day, seria semana passada, mas também foi cancelado. Aulas em escolas e universidades foram suspensas e o transporte público reduzido, mas o aeroporto ainda não fechou. Nos mercados, a situação também é preocupante. “Estão limitando mercadorias vindas da Itália e da China. Itens básicos, como arroz, estão bem restritos nos supermercados. Está difícil de encontrar”, relata.