“Não foi acidente, a Vale mata rio, mata peixe, mata gente”. Essas eram as palavras de ordem em Casa Branca, distrito de Brumadinho (MG), na tarde de sábado (2). A comunidade local organizou um ato em homenagem às vitimas do rompimento da barragem da Vale no Córrego do Feijão dia 25 de janeiro.
Os presentes oraram, acenderam velas e leram em voz alta os nomes de todos os 94 mortos identificados até então. Na fala de cada um, a revolta, a homenagem e a preocupação com o futuro, seja pelas vidas em risco ou pela natureza.
A empreendedora turística Lelena Lima pede que sejam descomissionadas todas as barragens que estejam no entorno de grandes cidades. “A natureza é importante, mas tem barragens em Congonhas com grande risco. Atrás desse morro (aponta), ampliação da (Mina da) Jangada, virada para a cidade de Sarzedo”.
Ela pediu a palavra durante a manifestação para externar a revolta. Lelena quer que a história do Córrego do Feijão seja diferente dos distritos de Mariana (MG), atingidos pela lama tóxica da Samarco em 2015. Para a empreendedora, o ideal é que a comunidade seja reconstruída, mas em outro local. “As pessoas lá (em Mariana) foram colocadas fora da jogada, o ser humano foi encostado em algumas casas, alguns aluguéis, fora de suas vidas. Quem é do campo deve estar no campo com a sua casa, suas galinhas, seus bezerros. A minha preocupação é com o povo da terra, pequenos agricultores, que tiveram a dignidade das profissões perdida em Mariana”.
Lelena cita ainda uma reunião histórica que assistiu: 11 de dezembro de 2018, na rua Espírito Santo, 435, Centro de Belo Horizonte. Nesse dia, nesse endereço, foi selado o destino dos moradores do Córrego do Feijão e de Sarzedo. A votação feita por membros do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) autorizou o aumento da capacidade produtiva das minas do Feijão e da Jangada em cerca de 80%.
Houve apenas um voto contrário, o da ambientalista Maria Teresa Corujo, e uma irônica abstenção do presidente do Ibama, Júlio Grilo. Sete votos favoráveis.
Pronto, foi dado o licenciamento. De bandeja. A Vale teve o procedimento reduzido depois de uma ajudinha do secretário de Meio Ambiente (que continua no cargo), Germano Vieira, em decreto. Não são necessárias mais as licenças prévia, de instalação e de operação, como de praxe, mas apenas uma, autorizada nesse fatídico dia, pelo Copam.
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