Em dez anos de carreira, essa é a segunda vez que o capitão Henrique Nunes de Souza, da Polícia Militar, trabalha em um grande desastre provocado pelas mineradoras. Ele esteve em Mariana (MG) no dia seguinte ao rompimento da barragem, em 2015, e chegou a Brumadinho na quarta-feira (30), vindo da base aérea da PM em Poços de Caldas.
Nascido em Governador Valadares (MG), o piloto é subcomandante da base poços-caldense e veio junto do comandante, major Guilherme Henrique Soares, e de dois sargentos. A função da equipe é auxiliar o Corpo de Bombeiros na tentativa de localizar sobreviventes, inclusive animais, além de ajudar os militares israelenses, resgatar corpos e gerenciar o combustível das aeronaves, pois o gasto geral é de 20 mil litros por dia. Ao todo, as polícias Militar, Civil e Federal, Bombeiros, Aeronáutica e Exército somam cerca de 30 helicópteros no local.
Encontramos o capitão por volta das 15h desta quinta-feira (31), na base montada perto do local da tragédia. As primeiras palavras ditas por ele, antes mesmo de gravar a entrevista, são elogiosas. Ele demonstra admiração pelo trabalho dos bombeiros, que se sujam e correm riscos na lama, em busca de confortar as famílias dos desaparecidos.
Só hoje, até aquele momento, ele havia resgatado três corpos humanos e uma vaca, com vida, pesando mais de 400 quilos. “É muito difícil se locomover nesse terreno. Então, quando tem alguma informação de possível corpo, a gente avalia in loco”, explica.
Henrique ainda informa que o trabalho da PM começou assim que houve a notificação do rompimento e vai até o fim da operação. A equipe de Poços fica em Brumadinho até domingo (3). “Tem um desgaste muito grande aqui, tanto físico como psicológico. Por questão de segurança de vôo, nosso comando entende que tem que renovar os pilotos, porque a gente passa por algumas situações de stress que não são muito confortáveis”, comenta o capitão.
A entrevista termina e um dos sargentos chega contando que ganhou um distintivo dos colegas israelenses. Mas, antes que o assunto flua, o grupo recebe uma instrução para ir a campo e apurar a denúncia de que um drone estaria sobrevoando a área, o que é proibido durante as buscas.
Em seguida, enquanto aguardamos no espaço reservado à imprensa, observamos cenas comuns e, como define sutilmente o subcomandante, “não muito confortáveis”: os corpos chegam pendurados nos helicópteros, dentro de sacos, e são carregados em terra pelos bombeiros. Em meio a tudo isso, um caminhão entrega flores. Sem entender muito bem a função desses vasos, perguntamos para um policial militar. Só então percebemos que o destino final dos corpos é o mesmo das flores. O cemitério é logo ali, atrás do campo de futebol adaptado como heliporto.
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