Regina Cioffi é medica pediatra, foi vereadora em Poços de Caldas por dois mandatos e a primeira mulher presidente da Câmara local. Em 2016 disputou as eleições para a prefeitura de Poços e agora afirma que se candidatar a deputada estadual é um “chamamento de Deus”. Hoje filiada ao Partido Humanista da Solidariedade (PHS), é defensora do municipalismo e entende que trabalhar pelas pessoas e pelos municípios deve ser prioridade.
Ela é a terceira entrevistada da série com pré-candidatos realizada pelo Poços Já Política. Leia a entrevista na íntegra:
Poços Já Política – Porque se candidatar a deputada?
Regina Cioffi – Primeiramente porque eu acho que é um chamamento de Deus realmente, que em um momento tão difícil do país, de uma crise política institucional e ética na política. Em segundo é o desejo, a vontade mesmo de fazer algo diferente por Minas Gerais. Eu sei que eu tenho o conhecimento, a experiência para que eu possa atuar na Assembleia Legislativa e fazer, como eu fiz aqui na Câmara Municipal, a diferença. E trabalhar pelas pessoas, trabalhar pelos municípios, porque na verdade eu sou municipalista, extremamente municipalista, e nós não podemos focar o trabalho em Belo Horizonte, no caso federal também lá em Brasília, mas focar nas cidades. Então, as cidades precisam desse olhar, as pessoas precisam desse olhar, porque é nas cidades que as pessoas vivem.
PJP – Você se considera de direita, de esquerda ou centro?
RC – Eu acho que todos os extremos não são bons, tanto é que essa política nefasta que existe entre direita e esquerda somente prejudicou o país até hoje. Nós temos que ter, sim, o equilíbrio. O equilíbrio é essencial para a política, é essencial para a vida, não é questão de ser de direita ou ser de esquerda, você tem que ter equilíbrio nas suas ações, ponderar suas ações e fazer aquilo que é importante pra população. Isso não é ficar em cima do muro, isso é apresentar uma coerência com os princípios voltados à população.
PJP – Quais as suas principais bandeiras?
RC – Eu tenho várias bandeiras, uma delas, a principal, é a área da saúde. Eu tenho andado muito pelo nosso estado, principalmente pela região sul e sudoeste de Minas, que é uma região até mais privilegiada que outras de Minas Gerais, existe uma diversidade muito grande no nosso estado, mas a saúde é uma área em que as pessoas realmente estão sofrendo muito. É onde eu vou poder atuar com muita competência, com muita experiência, buscando os recursos necessários, inclusive junto ao governo, sabendo caminhos necessários para buscar esses recursos para atender à população. Além disso, eu quero trabalhar pela municipalidade, eu quero trabalhar para a educação, para a saúde, para a segurança, porque a vida acontece é nos municípios. Então, as minhas bandeiras são: trabalhar para pessoas do município, principalmente voltada à área da saúde, que é uma área que está bastante carente em Minas Gerais.
PJP – Como conciliar os interesses do partido e dos seus eleitores?
RC – Na minha escolha de partido, do PHS, uma das discussões que eu ali fiz para ir para o partido – tive o convite de muitas bandeiras partidárias, muitos partidos -, foi que eu pudesse caminhar de acordo com a minha índole, de acordo com o meu pensamento, voltado, como eu já disse, para as pessoas e não para as coisas. Então, isso ficou muito claro para o partido, que aquilo que eu não concordar com a atuação do partido eu serei contrária, isso ficou acordado e ficou muito determinado. Portanto, não tem problema nenhum, visto que o PHS é um partido de muito equilíbrio, oque foi um dos indicadores para que eu pudesse escolher. Por isso que é muito importante a escolha do seu partido de acordo com, pelo menos, as diretrizes principais que você pensa.
PJP – O que é mais importante para você: legislar ou captar emendas parlamentares?
RC – Com toda a certeza, legislar. As emendas são importantíssimas, mas são pontuais e emenda, na verdade, pode vir, pode não vir, pode ter o recurso, pode não ter o recurso, pode ser empenhado, pode não ser empenhado. Enquanto que o trabalho mais globalizado para o município, por exemplo, buscando realmente atender às demandas daquele município, trabalhando junto ao governo para conseguir isso, para mim é muito mais importante. Isso é legislar em prol da população. É claro que as emendas não deixam de ter sua importância, mas se nós fizermos com que os recursos, que são direitos do município, voltem para o município para que o Executivo possa atender às demandas da população, nós estaremos fazendo a melhor política, como diz o Pio XII, “a melhor forma de você fazer caridade é fazer a boa política”.
PJP – Considerando as mudanças recentes, como a diminuição no tempo de campanha, qual sua estratégia para alcançar o maior número de eleitores e municípios?
RC – Primeiramente, a pré-candidatura, que é o momento que estamos vivendo, é um trabalho em que nós podemos buscar os apoios, buscar as lideranças, buscar aquelas pessoas que possam estar multiplicando e nos auxiliando no período legal para a eleição, que são os 45 dias. A estratégia é trabalho, é contato com as pessoas, é muita conversa, é mostrar a sua transparência, mostrar a sua verdade e, importante, nós escolhemos um número de municípios suficientes para que depois eu possa, estando lá, se Deus quiser e em vontade do povo, voltar e atender essas demandas da população. Então é muito trabalho, principalmente muito corpo a corpo e muito contato com as pessoas.
PJP – Poços passou os últimos anos sem representantes, inclusive devido ao número de candidatos nas últimas eleições. Você estaria disposta a se unir a algum candidato, ou abdicar de sua candidatura, pelo bem da cidade?
RC – Nesse momento eu não estaria disposta não. Não estou disposta, porque eu venho desenvolvendo um trabalho há bastante tempo e eu tenho minhas convicções, minhas determinações, a minha forma de pensar e, portanto, não seria eu que deveria, talvez, abdicar, porque outras pessoas que estão aí candidatas já tiveram sua oportunidade, já tiveram a oportunidade de trabalhar. Eu não tive ainda, o que eu estou pedindo à população é oportunidade para que eu possa dar oportunidade e qualidade de vida às pessoas e fazer esse trabalho integrado com as demandas, necessariamente, da população. Então, eu acho que, se alguém tivesse que abrir mão, seria alguém que já passou por lá, já deu a sua contribuição e possa abrir espaço para novas pessoas, novas ideias. Nós podemos inovar e mudar, e neste momento nós observamos é que a população não quer os mesmos, a população quer mudança, a população quer o novo, mas o novo também tem que ter experiência.
PJP – Enquanto deputada estadual, como você poderia contribuir para o repasse de verbas da saúde, o pagamento dos servidores e outras questões referentes ao Executivo?
RC – É muito importante nós sabermos o caminho para você conseguir as verbas. Eu tive a oportunidade, como diretora da Santa Casa por 16 anos, de participar de algumas reuniões que nós chamamos de PPI, no caso da saúde e bipartites. Embora não fosse secretária de Saúde, eu participei como diretora do hospital. Existem formas, sim, de você buscar esses recursos e brigar por esses recursos. As cidades que têm deputados, que têm representantes, conseguem muito mais coisas do que nós que não temos, cito o exemplo de Pouso Alegre.
Segundo, nós temos que trabalhar para diminuir a tributação desse estado, é o segundo maior estado tributado do país. É um verdadeiro absurdo, houve um aumento de 31% do ICMS sobre a gasolina em Minas Gerais, nós pagamos um real a mais que o estado de São Paulo, isso antes da greve dos caminhoneiros. Isso é um verdadeiro absurdo, uma assembleia aprovar um tipo de situação dessa. E outra coisa, para vir recurso para o município nós temos que ser municipalistas verdadeiramente, nós temos que fazer com que o que sai daqui, dos nossos impostos, dentro da legalidade, da institucionalidade e da moralidade, que volte ao município para que o Executivo, dentro de uma gestão competente, atenda às demandas de servidores, gere emprego.
É muito importante trabalharmos com a geração de emprego também, porque você gerando emprego, você vai dar condições de qualidade e dignidade de vida. É isso que o país precisa, dar dignidade de vida às pessoas. Nós, agentes políticos, temos o dever, a obrigação de buscar essa dignidade das pessoas, porque as pessoas perderam a dignidade e a qualidade de vida justamente por não se trabalhar para voltar os recursos para os municípios, ficar só em cima de emendas, que são pontuais, mas que não resolvem os problemas dos servidores e muitas vezes não resolvem o problema da saúde em termos globais. Ser municipalista, verdadeiramente, é o grande foco para que aquilo que é direito do município volte e que o prefeito, de forma competente, faça a gestão e atenda às verdadeiras demandas da população.
PJP – Você foi vereadora por dois mandatos, mas também se candidatou a prefeita. Qual a sua prioridade: Legislativo ou Executivo?
RC – Na verdade eu me sentia muito preparada para ser a prefeita de Poços de Caldas, por isso eu coloquei o meu nome, porque eu me preparei durante oito anos, através de projetos e anteprojetos, para ser a prefeita da Poços de Caldas, mas essa não foi a vontade da população. Dessa maneira, eu acho que não é questão de você querer ser Executivo ou querer ser legislativo. Eu quero auxiliar, eu quero ajudar, se a oportunidade que eu tenho agora é de ser uma deputada eu vou lutar com todas as minhas forças, com todos os instrumentos que eu tenho, os legais, os instrumentos éticos, de transparência, da verdade, do compromisso com a população, para tentar uma cadeira no Legislativo.
Infelizmente, com a prefeitura não deu, porque talvez o chamamento de Deus para mim seja para outras prioridades também. Nós temos que pensar que todos nós temos um destino, não é isso? Então, se eu estou com essa força, com essa determinação, com essa vontade de auxiliar os municípios, é porque realmente há um chamamento de Deus e eu estou também preparada para esse desafio que é mudar a cara o país, auxiliar para mudar a cara do país.
PJP – Você mudou de partido esse ano e já tinha tido dificuldades anteriores, por esse mesmo motivo. Qual a sua opinião sobre fidelidade partidária?
RC – Olha, eu sempre tive fidelidade partidária, tanto é que eu fiquei só no PPS durante os oito anos que eu estive como vereadora. Por uma questão mesmo de opção de mudar, porque eu vi que pelo PPS, a forma como o PPS faz o encaminhamento das suas chapas, da sua forma de trabalhar, essa questão de participar dos chapões, você simplesmente sempre servir de escada para que outros possam entrar, essa política do PPS, embora eu tenha saído do PPS de uma forma extremamente tranquila, ética, tenho amizade com todos eles lá. Eu optei por outro caminho, é uma opção, nós temos que pensar naquilo que nós podemos, que temos aberto para você conseguir. Pelo PPS, como eles têm essa política de agregar grandes partidos e simplesmente ficar à mercê desses grandes partidos, eu optei por mudança, tanto é que eu decidi ir para o PHS bem agora no finalzinho. Eu pensei muito, tive um convite do PSC, mas não me filiei ao PSC como todos acham que eu me filiei. Quiseram me passar o partido para eu comandar aqui em Poços e eu aceitei, mas eu não me filiei ao PSC, então eu não fiquei mudando, pipocando de partido, não me filiei ao PSC.
Eu fui para o PHS por uma questão mesmo de mudança, eu acho que é a vida, se você está num caminho e acha que aquele não é o melhor caminho para você, você tem que ter a coragem de mudar e é isso que nós precisamos ter, a população precisa ter a coragem de mudar esse país. Isso somente através do voto, o poder do povo, emana do povo, está na Constituição, somente através do voto que nós vamos poder mudar o país. Isso é muito importante, dia sete de outubro é a grande oportunidade que nós brasileiros temos para mostrar que nós não aceitamos mais essa velha política, essa política voltada para o próprio umbigo, essa política em que as pessoas realmente não trabalham pelo povo.