O final de semana foi positivo para a Santa Casa, com o show da dupla César Menotti e Fabiano, no sábado (18), que levou uma multidão ao Ronaldão e arrecadou fundos para o hospital. De manhã, a Guerra de Bexigas realizada no Parque Municipal também chamou atenção para as dificuldades financeiras da instituição. O Poços Já cobriu o evento e aproveitou para conversar com a superintendente da Santa Casa, Renata Santos.
Ela afirma que a verba transferida pela Câmara Municipal chegou dia dez de novembro e em seguida começaram os pagamentos atrasados. Para recuperar o tempo perdido, será feito um plantão de quimioterapia na Unidade de Atendimento de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon).
Leia a entrevista na íntegra:
Poços Já: Qual a atualização sobre a questão financeira da Santa Casa? A verba da Câmara chegou?
Renata: A verba da Câmara chegou dia dez à tarde. Os pagamentos começaram a ser feitos na segunda-feira (13). Começamos a efetuar os pagamentos dos fornecedores e dos prestadores de serviços. Nós tivemos um prejuízo por causa do feriado na quarta-feira (15), mas os medicamentos começaram a chegar na terça, na quinta, na sexta. Lógico que temos muitos pacientes para fazerem quimioterapia. Então no próximo sábado a gente vai estender um pouco mais esse horário de quimioterapia, vamos fazer um plantão extra no final de semana para que a gente consiga colocar, o mais rápido possível, em dia toda a questão dos medicamentos orais, isso não tem dificuldade. Mas para a parte de quimioterapia a gente está buscando ações para que não haja mais prejuízo aos pacientes.
Poços Já: Esse dinheiro da Câmara é um paliativo, como fica a situação do hospital em seguida?
Renata: Essa verba nos socorreu muito, chegou depois de aproximadamente 40 dias. Se tinha uma previsão de durar dois ou três meses, já chegou com um acúmulo. Nós estamos buscando ações junto ao estado e esperando que o estado também nos pague não só o extrapolamento de cirurgias oncológicas, como o programas. O Pro-Hosp (Programa de Fortalecimento e Melhoria da Qualidade dos Hospitais do SUS/MG) está muito atrasado, então o estado também tem que fazer a parte dele. Nós temos um valor em aberto de resoluções que já foram publicadas e que o estado, claro que está em estado de calamidade pública, mas nós precisamos de recursos. A secretaria de estado é imprescindível que faça sua parte e coloque em dia esses extrapolamentos que nós temos para receber.
Poços Já: De quanto é a dívida da Santa Casa?
Renata: Só de Pro-Hosp é mais de R$1,8 milhão. Existe uma morosidade também para fazer essa referência do que foi extrapolado ou não. Mas nós podemos falar da ordem de cinco milhões. Entre extrapolamento de UTI, de cirurgias oncológicas. O Pro-Hosp desse ano, de R$1,485 milhão, nós recebemos só R$485 mil. Recebemos só de janeiro a abril, já estamos em novembro. Ele paga por quadrimestre. É um programa essencial, a Santa Casa participa do Pro-Hosp desde 2004 para ajudar no custeio, a gente faz pactuações de equipamentos. É imprescindível que esses programas sejam mantidos e que a gente tenha garantia de recebimento.
Poços Já: Desde que começou esse processo de abertura e transparência da Santa Casa, assim como de pedir ajuda à comunidade, você acha que os moradores locais estão se tornando mais engajados na causa?
Renata: Sim, é um trabalho de formiguinha mesmo, mas eu acho que está melhorando. É difícil, existem muitos questionamentos, mas a Santa Casa preza pela transparência, para que a comunidade entenda que nós somos prestadores de serviços, trabalhamos de forma complementar para o município. Mas esse consenso tem que existir. Nós queremos que a população entenda que o que o Sus nos paga é insuficiente. A tabela não tem ajuste há anos. Nós somos a única maternidade SUS do município, a única neonatal SUS do município, a única pediatria SUS, hemodiálise, cirurgia bariátrica. São diversos serviços que o SUS não remunera adequadamente. O principal problema da Santa Casa é isso: atender um percentual grande de SUS com o que o SUS nos paga. Imagina você ficar sem aumento durante dez anos, receber pelo mesmo salário de dez anos, 20 anos atrás. Estamos há no mínimo dez, 15 anos sem reajuste. Na maioria dos procedimentos, o que se fala é 18 anos sem reajuste. Essa política do SUS tem que mudar. O Ministério da Saúde, o governo federal, tem que mudar essa forma de remuneração. Todo ano nós temos aumento do repasse, do dissídio dos funcionários, o percentual dos medicamentos. Como acontece conosco no dia a dia, a conta de luz sobe, a conta de água sobe. Para a Santa Casa também sçao repassados esse reajuste, mas o nosso principal cliente não repassa. Lógico, a culpa não é da população. A culpa é lá do governo federal. Tem que mudar essa política de financiamento, nós temos que ter uma garantia. O governo autoriza o aumento de 12% no medicamento, mas não repassa essa diferença. É impossível a gente conseguir suprir, atendendo 10% de convênios. Porque os convênios, cada vez mais, estão apertando as tabelas, buscando o equilíbrio deles também.
Poços Já: Você pode dar um exemplo de defasagem nessa tabela?
Renata: A UTI é uma média de R$1,2 mil por dia e nós estamos recebendo agora, por oito leitos, R$686. Até alguns meses atrás era R$382. Então, eu gasto uma média de R$1,2 mil por dia num leito de UTI, e estou recebendo R$686. Os outros leitos, que temos cadastrados, ele paga só R$382. O SUS não aumenta a tabela, dá um incentivo. Desde janeiro deste ano nós temos um incentivo para valorizar oito leitos, só que eu tenho dez. Ele entende que nós temos só 80% de ocupação, a nível nacional a média é essa. Temos dez leitos cadastrados, então o SUS só paga oito. O restante, seu eu usar, vou receber um dia, quando o governo estadual tiver recursos, ou não. A diferença é muito grande, praticamente 50% só na UTI. Por isso que eu sempre falo: se a Santa Casa tivesse um caixa para cada serviço, como eu iria manter a urgência, a UTI neonatal? Essa é a dificuldade nossa, por isso temos um caixa único. Senão, diversos serviços já teriam parado. Vários hospitais da região decidiram por fechar leitos da UTI. E isso sobrecarrega mais ainda a Santa Casa.
Poços Já: E o que tem sido feito para mudar esse cenário?
Renata: Nós estivemos lá dia 18 de outubro, mas não temos resposta. Fomos muito bem atendidos pelo dr. Sávio, que é o nosso secretário estadual. Estou tentando buscar uma nova reunião com ele ainda, até porque pra ver se a gente consegue agilizar esse processo de liberação da neonatal e também buscar recursos, lógico. Fomos bem atendidos, mas não temos garantia e nem previsão de quando vem esses pagamentos.