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A grande inovação é o povo

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Tiago Mafra é professor de geografia das redes municipal e estadual (foto: arquivo pessoal).
Tiago Mafra é professor de geografia das redes municipal e estadual (foto: arquivo pessoal).

Historicamente houve no Brasil devido a toda sua história de exploração pelas elites estrangeiras e nacionais, uma mistura entre os interesses públicos e privados. Esses grupos sempre chefiaram seus governos como uma extensão de suas casas e de suas atividades econômicas. Isso tem como resultado uma quase total ausência de povo no processo (recente, diga-se de passagem) de erigir um Estado em nosso país.

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Ideologicamente, como efeito, o discurso do “Estado Mínimo”, da passionalidade do brasileiro e de sua incapacidade de gerir de forma racional, toma forma no senso comum, distanciando ainda mais a população dessa “gestão pública”, que tende a cada dia tornar-se muito próxima  de uma “gestão empresarial”.

Mas, ainda bem, a história é movimento. E movimento traz sempre a possibilidade do devir. É tarefa central para os próximos governos inserir o ingrediente que na maior parte do tempo foi alijado do processo de construção do país e das cidades: o povo. Falta participação popular, falta uma gestão participativa, falta supremacia política sobre o privatismo com que os agentes públicos comandam a cidade.

Em 2016 teremos a tarefa de buscar o grupo político que melhor possa dar respostas a essa lacuna histórica de participação popular e gestão conjunta. A cidade precisa de um governo que consiga articular uma administração eficiente com a participação popular, num sentido de resgatar a política com ferramenta de resolução coletiva de problemas sociais. Eficiente não no sentido de simplesmente gastar menos, mas de investir de forma responsável e que tenha reversão na qualidade de vida do povo, de forma objetiva. Participação não no sentido de trazer a população com expectadora, como ouvinte, mas de delegação de funções, de distribuição de tarefas e principalmente de dar voz a quem vive os pontos negativos da cidade cotidianamente.

Em um momento de fragilidade e descontentamento com a política, quem conseguir vencer o próximo pleito tem a tarefa pedagógica de governar com o povo, resgatando assim a democracia direta e a visão republicana do Estado. Enfrentará, naturalmente, os privatistas de plantão, aqueles que ainda veem a cidade unicamente como fonte de lucro a todo custo, os especuladores; enfrentará ainda os patrimonialistas, que não entenderam ainda o que é a coisa pública e persistem na troca de favores, no tráfico de influência e no favorecimento de empresas privadas (visando sempre o financiamento futuro de campanhas). Por fim, terá tarefa de resgatar aquela que já foi uma das características da cidade: a de ter olhar visionário, à frente de seu tempo. Planejar, rever o Plano Diretor e cumpri-lo.

O desafio é não tornar-se um déspota local, um tecnocrata desafeito ao povo, um burocrata que se perde nos processos administrativos ou mesmo um autocrata que só ouve a si mesmo e aos empresários que o financiam. A grande inovação é o respeito com o público, o respeito com o povo, sem demagogia.

Recordo sempre de uma frase de Betinho: “A democratização das nossas sociedades se constrói a partir da democratização das informações, do conhecimento, das mídias, da formulação e debate dos caminhos e dos processos de mudança.”. Comecemos pela nossa cidade.

 

*Tiago Barbosa Mafra é professor de Geografia nas redes públicas municipal e estadual, com especializações em filosofia e gestão pública, e membro do pré-vestibular comunitário Educafro.



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