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Pão, circo, coreto e rock and roll

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Pão e Circo participou do Grito Rock na terça-feira de Carnaval.
Pão e Circo participou do Grito Rock na terça-feira de Carnaval.

A banda poços-caldense Pão e Circo tem uma identidade forte. Representa o dobrado, ritmo aparentemente pouco conhecido por aqui. Mas quando a música começa todos lembram das fanfarras, das bandas de coreto, das praças da vida. A diferença é que nessa banda a pegada do coreto também é rock and roll.

O Poços Já conversou com os músicos João Paulo, que é baterista, Danilo Bareiro, vocalista, Luís Prata, trombonista, e Renato Gaiga, guitarrista, após a apresentação no Grito Rock de terça-feira (9). A entrevista abordou assuntos como o processo de composição e o crescimento do público interessado na música autoral.

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Poços Já: Primeiro gostaríamos que vocês falassem sobre a importância de um evento como esse para a carreira de vocês.

João Paulo: O Grito Rock para gente foi o primeiro espaço que o Pão e Circo tocou ao vivo. No Carnaval, ter um espaço para nós tocarmos as nossas músicas autoriais, fazermos um show só de música autoral, não tem nem como falar o tamanho da importância para a gente.

Danilo: A gente lembra da primeira vez que a gente tocou aqui, da nossa primeira apresentação, e até hoje a gente carrega essa energia. Aquele dia foi demais, ver algumas pessoas cantando as nossas músicas é muito bom, é muito forte, importante demais para o artista autoral.

Renato: A primeira vez que a gente tocou, aqui no Grito, a primeira música uma galera já cantou junto. Aquilo lá arrepiou e não sai da nossa cabeça. Primeiro que é na nossa casa, em Poços, e no New York, que é uma das casas referência em qualidade sonora. No Carnaval, onde está rolando axé, sertanejo e funk, tocar rock e ska, autoral ainda, e a galera lotar a casa, é muito gratificante.

Poços Já: Como é esse processo de bater o pé e dizer ‘vamos fazer música autoral’?

Renato: É um sonho de infância, a gente sempre quis fazer música própria. O Luís é compositor de letra e a gente é fã das letras que ele faz. Então a gente musica essas letras junto com ele. Ao longo desses anos que a gente tocou cover a gente foi juntando um repertório de música autoral. Chegou uma hora que a gente sentiu a necessidade de valorizar a nossa própria arte.

Poços Já: A identidade da banda é muito específica, diferente. De onde vem isso?

Luís: A gente sempre tocou muito rock, tinha uma banda de rock and roll e ska. Eu e o Giovani crescemos no coreto, tocando, o pai do Giovani é maestro do coreto. A gente juntou o rock com essa experiência do coreto, com os dobrados. Esse ritmo parece uma marcha, mas é um estilo 100% brasileiro e a gente mistura isso com o nosso som. Acaba o nosso som sendo autêntico e nacional, mesmo tendo o rock. Isso é a base nossa, mas a gente também mistura jazz, música eletrônica, coisas que a gente gosta.

João: No nosso show a gente toca um dobrado que chama Jardinópolis. Pegamos o arranjo original e pusemos uma pitada com guitarra distorcida, bateria mais pesada. Mas tem ali a marcha, o dobrado, os instrumentos de sopro fazendo o arranjo, bem tradicional.

Poços Já: Vocês sentem um crescimento do público devido à valorização do trabalho autoral?

Renato: Sim, ver a galera bater a cabeça na frente do palco, sentir o som, corresponder com a gente no olhar, na dança, as pessoas que sabem cantar cantando junto, é muito bom. A gente vê que a cada show tem algumas pessoas que são fiéis e outras que vêm conversar com a gente.

João: E também é um trabalho do Coletivo Corrente Cultural, de formiguinha. O Grito Rock está bombando todas as noites, as Noites Independentes também, e isso agrega público às bandas de música autoral. Se a gente montar os instrumentos e tocar na rua talvez não venham tantas pessoas. Eles criaram um evento que as pessoas já vêm esperando música autoral. Se colocar uma banda de música autoral em um dia que não é adequado as pessoas podem não aceitar. Porque as pessoas têm que estar abertas à música autoral.

Renato: Hoje, com espaço para o autoral, se a banda já tem uma vontade de fazer música autoral, vão procurar porque tem espaço. A gente já teve banda cover e não tinha espaço para música autoral. Isso foi criado e é bastante importante.

Poços Já: Como é o processo de composição? Há algum tema recorrente?

Renato: São histórias de início, meio e fim. Noventa porcento delas não têm refrão. São histórias de temas diversos, passando por personagens de terror, coisas de crises existenciais, uma carta para um pai, uma fala para uma namorada, um protesto com cunho político. Passa por essas vertentes.

Luís: É o momento que a gente acha que deve falar alguma coisa. A gente tem uma música, por exemplo, que chama Festa Zumbi. A gente gosta de filme de zumbi, vai lá e faz uma música de zumbi. Não estou reivindicando nada, só expressando uma coisa que eu gosto. A gente tem uma ideia na cabeça, às vezes, que só está aqui dentro e a gente tem que colocar pra fora. Arte é isso, se expressar de alguma maneira para as pessoas verem, ouvirem. O artista quer isso, quer mostrar, quer falar. A arte é um jeito de falar sem falar.

João: Acho que o Inferno da Realidade fala da temática atual, se encaixa bem. Não foi feita pensando em se fazer um protesto, por causa de crise, nada a ver. É um momento que estamos vivendo. Essas coisas que nós estamos passando hoje em dia lá nos anos 70 já aconteciam. Estão sempre acontecendo e a gente está sempre deixando. Sempre as letras vão ser atuais. Se você pegar as letras dos Beatles, dos Mutantes, vão ser atuais. Do mesmo jeito que o Luís não fez pensando no momento de hoje em dia. Ele fez lá atrás e elas se encaixam hoje em dia. Mas não pode deixar de dar uma alfinetadinha.

Poços Já: O nome da banda já tem uma crítica?

João: Tem, com certeza. A gente estava na procura por um nome e a gente não queria colocar um nome em inglês. A gente queria achar um nome legal em português, que é muito mais difícil. O inglês é sonoro, se colocar Bad Chickens já fica legal. Qualquer coisa, Yellow Balls é legal pra caramba. Em português achar alguma coisa interessante é difícil.

Renato: Sem inventar palavras, como paranoicada. É um jeito de dar uma cutucada e a gente também tem uma queda pelo som circense. Não pelos ritmos circenses, mas pelos instrumentos que são usados. Os de sopro, fraseados de música de coreto, que lembram marchas. Acho que casou também a parte do protesto com a parte do estilo.

Poços Já: Existe uma influência de Sgt. Peppers, dos Beatles?

Renato: Inconscientemente sempre terá, porque os Beatles já fizeram tudo. O Paul McCartney  toca um reggae no show, você fala: “Cara, Bob Marley ouviu isso”. Você tem uma música de marcha, os Beatles já fizeram, rockabilly, música progressiva. E todo mundo aqui gosta de Beatles, mas a gente não tentou se influenciar em nenhuma banda, mas nos ritmos.

João: Acho que inconscientemente qualquer banda é influenciada pelos Beatles. Eu estava lendo o livro do Bob Marley e ele ouviu o Revolver dos Beatles para fazer músicas.

Renato: Os Beatles também se fantasiam de banda marcial, então também beberam dessa fonte. É um gosto em comum pelo estilo.

Poços Já: Além de Beatles, quais as outras influências?

João: Nós tivemos uma banda de rock aqui em Poços, chamava Corujão. Então Led Zeppelin, The Doors, AC/DC. Também passa pelo jazz, Louis Armstrong, blues, B. B. King.

Luís: A gente já tocou tanta coisa, passou por tanto estilo.

João: E nós não somos só influenciados pelas bandas dos anos 70 e 80. A gente foi muito influenciado pelas bandas do anos 90. Skank, Paralamas, Cidade Negra, Jota Quest, Charlie Brown. Essa parte dos instumentos de metal quem chamou atenção foi Skank, Paralamas.

Renato: Essa banda na verdade só existe por causa de Skank e Paralamas, a verdade é essa. Senão eu e o João nem teríamos nos interessado em ser músicos.



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