Enquanto buscamos por histórias de quem vive ao redor do Rio Doce, fazemos uma pausa para entender melhor a questão ambiental. Vamos ao Instituo Terra, do fotojornalista Sebastião Salgado, que fica em Aimorés (MG) e trata da recuperação das nascentes da Bacia Hidrográfica do Rio Doce.
Quem nos recebe é a gerente de educação ambiental do instituto, Gladys Nunes Pinto. Ela fala sobre o projeto Olhos D’água, que dedica-se a recuperar nascentes do Rio Doce e a reflorestar uma área de 608 hectares. Destes, faltam apenas 100 hectares para plantação.
São promovidas atividades de recuperação ecossistêmica, como coleta de sementes, produção de muda, plantio e manutenção, além da educação ambiental. A expectativa é que a recuperação da bacia ocorra de 25 a 30 anos, já que o primeiro passo é criar condições para que aumente o volume de água. Em 2015 ocorreu a pior média de vazão hídrica na Bacia do Rio Doce. Obviamente, se houvesse mais água o estrago causado pela lama da Samarco seria menor. Em seguida, o projeto pretende avançar na recuperação de matas ciliares. Para isso depende de parcerias com empresas, governos estaduais e federal e do interesse de fazendeiros da região.
São cerca de quatro milhões de pessoas nas cidades e comunidades rurais da bacia. Em uma jornada por personagens que representem essa população, encontramos em Gladys algo diferente. Ela não vive do Rio Doce, mas para o Rio Doce. Dos 52 anos de vida, 14 são dedicados a ele.
Quando fala da história de degradação, usa a terceira pessoa. Apesar de estar entre os que mais trabalharam pelo rio, coloca-se na posição de membro da comunidade. “A sociedade toda é responsável. Os nossos péssimos hábitos, de tratar mal o meio ambiente, trazem isso para nós. Precisamos devolver a vida ao Rio Doce”.
Se para ela o rio é tão importante, esperamos que a tragédia seja motivo de lamentação. Mas Gladys nos surpreende ao mostrar o lado positivo disso tudo. “Eu acredito que o que aconteceu para nós vai ser um salto evolutivo muito grande. Nós vamos aprender com essa situação e mostrar que temos condição de recuperar. Quem sabe, o modelo de recuperação da Bacia do Rio Doce vai servir para outras bacias e para o mundo inteiro. Talvez a gente aprenda mais na educação punitiva”.