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A primeira impressão é que há qualidade de vida em Governador Valadares. Ciclovias por grande parte da cidade, pessoas caminhando e correndo até tarde da noite, trânsito que flui em horários de pico, comércio movimentado. Mas quando olhamos com mais atenção, percebemos uma constante: o medo.
A população local tem medo de beber a água que chega em casa, assim como de utilizá-la na preparação dos alimentos. Nos restaurantes e lanchonetes, placas informam: “Usamos água mineral”. Só assim para os clientes terem menos receio de comer fora de casa.
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Com dependência do Rio Doce, Governador Valadares interrompeu o abastecimento de água por cerca de uma semana, após o rompimento da barragem em Mariana. Aos poucos, os moradores voltaram a ter algo saindo das torneiras. Apesar da informação oficial confirmar a qualidade da água após a decantação, não encontramos ninguém com coragem para bebê-la.
Para os comerciantes que precisam da água, os custos aumentaram. Encontramos o Eduardo Souto Maior Peralba, de 33 anos, que tem hotel, lanchonete e estacionamento. Ele agora gasta cerca de R$600 mensais só para comprar água mineral. A da torneira, somente para lavar louça e tomar banho. “A princípio a gente tem a informação de que a água está boa para banho, mas para alimentação a gente tenta evitar usando água mineral. Isso gera um custo maior para a gente da lanchonete, que acaba tendo que comprar galões de água para suprir essa necessidade”, conta.
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A paisagem da cidade também não é mais a mesma. Próxima ao Centro há uma ilha envolta pelo Rio Doce. O que seria uma atração turística acabou se tornando um mirante para a tragédia. O calçadão, que tem até um clima de praia, perde valor se olhamos para o lado. Para qualquer lado. De qualquer jeito, o que se vê é o rio marrom.
Para o comerciante, que mora em Governador Valadares há um ano, tudo se define em uma palavra. “É um desastre. Uma cidade bonita, que depende diretamente desse rio. Enfim, o rio está marrom”.
Ou melhor, duas palavras: desastre marrom.