O trabalhador rural José Arlindo da Silva, de 38 anos, aguarda pelo dia em que vai voltar para Paracatu. Não para ver a destruição pela quinta vez, como fez conosco, mas para recomeçar a vida no lugar ao qual pertence.
A casa dele está tomada pelo barro. Sala, cozinha e três quartos, que antes abrigavam os filhos, hoje têm um cheiro forte de carniça. No varal, uma camiseta se mantém firme, dura, com uma camada grossa de lama.
Ele espera reconstruir a vida no mesmo distrito, com a mesma comunidade. Tem a esperança de que os responsáveis pelo caos ergam novas casas, em uma parte de Paracatu onde o chão continua verde. “Vão construir lá ó. Aqui embaixo vão fazer quadra de futebol, escola, mas lá pra cima vão fazer as casas pra nós”, acredita.
Encontramos Silva em Mariana, no Centro de Convenções, com a ajuda de uma liderança do distrito. Sorridente a todo instante, decide de imediato que vai nos ajudar. No caminho, só sorrisos. Porém, quando chegamos a Paracatu o impacto é imediato. O homem, que antes era brincalhão, agora contempla a cena com um olhar distante, profundo, como se lembrasse de tudo que vivera. “Quando vim aqui pela primeira vez, depois da lama, deu até vontade de chorar”, lembra.
A escola tem nítidas marcas de barro e continua de pé, pela sorte de ter dois andares. Os bancos da igreja estão revirados, mas a bíblia resiste aberta em cima da bagunça. Vemos um pouco do verde do bambuzal, um amarelo apagado no ponto de ônibus, um pouco do branco na parede da igreja. Tirando isso, só o marrom da lama.
No momento de ir embora, chega um conhecido do nosso personagem. A feição e o tom da voz mudam. Eles brincam com uma garrafinha de Coca-Cola que encontraram na lama e acabam desistindo de tomar o refrigerante. Parece que o caminho é esse. Sem pensar muito no que aconteceu, o jeito é aos poucos retomar o controle da própria vida.
Atualmente o trabalhador rural mora em um hotel, na cidade de Mariana, assim como seus oito filhos, pago pela Samarco. Sem trabalho, passa os dias sem um rumo certo. “Acho que vão pagar um salário de indenização, mas isso é muito pouco. Lá eu fazia de tudo e me pagavam bem. Me pagavam mil e setecentos por mês”.
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