São mais de 20 dias após o rompimento da barragem que destruiu o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, e fez sucumbir o Rio Doce. A partir de hoje, o Poços Já vai a campo e publica a série de reportagens “Rio Doce: o outro lado da tragédia”.
Ver as imagens divulgadas na televisão, nas redes sociais, nos jornais, deixou em muitos aquele nó no peito constante. Para os mineiros, a dor parece ainda ser maior. Este espaço vai servir não para cobrar os responsáveis, não para criticar a falta de fiscalização. Vai servir para mostrar o que mudou na vida das pessoas que vivem ao redor do Rio Doce.
A população ribeirinha, que utiliza a água para plantação, a família que viveu por gerações ao redor do rio, o fazendeiro que perdeu os animais. Ainda não sabemos se vamos encontrar esses personagens, mas temos a certeza de que vamos conhecer histórias de vida incríveis. Seja pela simplicidade ou pelo amor ao rio que hoje é só lama.
Enquanto veículo de Poços de Caldas, poderíamos prosseguir na rotina. Porém, em uma conversa informal percebemos o quanto nos incomoda ver os mineiros passarem por um momento tão difícil. Na ânsia de querer ajudar, vamos fazer o que sabemos: mostrar.
A inspiração tornou-se ainda mais forte quando nos deparamos, em Poços, com uma garçonete, ex-estudante de geografia, que passou a vida toda no leste de Minas. É a Tamara Oliveira, cuja indignação explodiu quando soube dos nossos planos. Ela conta, sempre com lágrimas nos olhos, da importância que essas águas têm por aqui. Ela sofre, por estar longe, e por saber que agora há milhares de pessoas desamparadas. Representá-la também é nossa função.
Além de Tamara, conversamos com outras pessoas. Com o empresário de Ouro Branco que passava por Poços de Caldas, com o engenheiro ambiental que nos conseguiu equipamentos, com o policial rodoviário federal que parou o carro da reportagem no caminho. Todos reclamam da falta de sensibilidade da imprensa, que foca na questão ambiental, obviamente importante, mas acaba deixando passar em branco o registro de como as pessoas estão de luto, mas tentando se adaptar à nova vida.
Após uma longa viagem estamos em Ouro Preto, a cerca de 15 quilômetros de Mariana. Somos João Araújo e Juliano Borges, jornalistas.Partimos daqui para conhecer as pessoas que viviam em função do Rio Doce, sem saber o que vamos encontrar.