Paulo César Silva, conhecido como Paulinho Courominas, foi prefeito de Poços de Caldas de 2009 a 2012. Com votações expressivas, tem a carreira política marcada por separações. Primeiro, desligou-se do PT. Depois, rompeu a aliança com o PSDB e o DEM, partidos que faziam parte da base da sua gestão enquanto prefeito. Agora costura alianças, como Geraldo Thadeu (PSD) e Regina Cioffi (PPS), e diz que gostaria de voltar à prefeitura.
Em entrevista ao Poços Já, Paulinho admite erros. Sabe que poderia ter vencido as eleições de 2012 caso tivesse mais aliados e reconhece que a implantação do sistema integrado de transporte coletivo foi a maior falha de sua administração. Elogia o caráter do prefeito Eloísio, mas critica o fechamento da Policlínica e a vinda de pessoas de outras cidades para a equipe do Executivo, entre outras questões.
Poços Já: Quando você foi eleito vereador pela primeira vez?
Paulinho: Eu fui eleito vereador já na minha primeira tentativa no Legislativo, em 97. Em função do trabalho de vereador, do diferencial que eu consegui, que era o meu ideal político, me destaquei muito e na eleição seguinte fui eleito o vereador mais votado da história de Poços de Caldas. Isso já no segundo mandato. Mas nesse período eu já tinha algumas dificuldades com a postura como o PT vinha conduzindo. No segundo mandato nós elegemos o Paulo Tadeu prefeito, mas eu via que o rumo do PT no Executivo não caminhava com aquele propósito que a gente tinha assumido com a população. No primeiro ano do meu mandato eu desvinculei do PT e fui para o PPS, porque eu queria estar num partido que tivesse a mesma proposta ideológica.
Poços Já: O que aconteceu exatamente?
Paulinho: O que a gente propunha de projetos, de compromisso ideológico que o PT tinha, ao chegar ao poder começou a ter muitos problemas. Aquela questão de centralização, de não delegar, não reunir, não discutir, foi tomando um rumo muito estranho. Nós não participávamos das decisões do Executivo, mesmo sendo vereador do mesmo partido. Então fui vendo que a coisa não ia tomando um bom rumo, quando me afastei do PT e já começava alguma coisa com relação à dúvida sobre o PT no poder.
Poços Já: Depois houve uma ruptura com o seu grupo político, durante a gestão como prefeito.
Paulinho: Em função desse trabalho como prefeito, e também tendo uma visão de um projeto de administração que tinha que ter a cara do que eu sempre propus ideologicamente, eu tive problemas nos últimos dois anos do mandato. Pretendia ser candidato à reeleição e estive com os partidos que faziam parte do grupo que me ajudou a eleger prefeito. Nós tivemos um rompimento, porque estando no poder você tem aqueles que puxam o tapete, que estão trabalhando pelas suas costas, e aqueles que são leais. Chegou um momento que tive que dar um murro na mesa. Também fui o prefeito que historicamente fez a maior exoneração coletiva, tirando do cargo todo mundo que não estava comprometido com o nosso projeto para a cidade.
Poços Já: O que causou esse racha?
Paulinho: Tinha algumas interferências na administração e sempre tem às vezes uma imposição de determinadas posturas que, se eu não concordo e não vem de acordo com o que eu imagino que seja bom para a cidade, acaba criando conflito. Às vezes tem interesses pessoais em detrimento de interesses coletivos. A interferência vinha muito séria. Mas terminamos o mandato com os projetos realizados de acordo com a postura coletiva.
Poços Já: Você acha que teria vencido a eleição de 2012 caso o grupo tivesse se mantido?
Paulinho: Eu acho que sim, se tivesse tido um entendimento, se tivessem entendido e colaborado, pensado num projeto para a cidade, com certeza. O prefeito atual governa com uma minoria, porque o nosso racha que deu a ele a possibilidade. Estando fechados, nós estaríamos hoje, dentro do nosso grupo, ainda tendo deputado estadual, deputado federal, uma boa bancada de vereadores. Tudo isso me fez crescer, amadurecer, claro que a gente erra também. E hoje eu estou aí, nessa luta atendendo a um clamor. As ruas falam ‘você tem que voltar, Paulinho’.
Poços Já: Quais os destaques da sua administração?
Paulinho: Eu destaco a questão da educação, criação de novas creches, aumento de vagas e qualidade da educação. Os prêmios que recebi, com a educação inclusiva, levando as crianças especiais para a escola regular, criando a figura do cuidador. Isso me deu um prêmio nacional do MEC. A valorização dos professores, a municipalização de escolas. Na área da promoção social avançamos muito com as casas de passagem, programas de habitação popular, que foi o maior atendimento de famílias carentes, o atendimento cidadão, humanizado, para atender a pessoas necessitadas e carentes do município. Nós não tínhamos mendigos, pedintes, drogados nas ruas. Na segurança pública conseguimos, trazendo para cá a região militar e na criação da secretaria de Defesa Social, integrar as forças de segurança. Fomos eleitos a cidade com o menor índice de criminalidade de Minas Gerais, referência em segurança. E pelo Ministério da Justiça a quarta cidade mais segura do Brasil. Na questão do turismo, Poços de Caldas sendo divulgada, tivemos um fluxo de turismo aqui que com certeza proporcionou um aumento na arrecadação do ISS para o município. Na área de saúde foi a ampliação de todas as unidades de pronto atendimento, a reforma geral de todos os postos do Programa Saúde da Família e ampliação do atendimento para mais equipes. Aumentamos a cesta básica de medicamentos e conseguimos fazer uma boa parceria no pronto atendimento. Tivemos quatro anos sem problemas com Santa Casa. Ampliamos e reformamos o Hospital Margarita Morales, viabilizamos o atendimento e passou a ser referência o Hospital da Zona Leste. Conseguimos fazer sete mil cirurgias que estavam represadas na área de oftalmologia. Para mim, uma das grandes marcas foi conseguir para trazer para Poços de Caldas o segundo hospital da AACD em Minas. Eu me sensibilizava muito com o atendimento das crianças que faziam tratamento em São Paulo na AACD. Numa boa parceria com a Adefip, conseguimos trazer para Poços de Caldas.
Poços Já: A Thyssenkrupp também?
Paulinho: A Thyssenkrupp fui eu que trouxe. Quem assinou o protocolo de intenções, quem doou área foi o meu governo. Eu fico às vezes chateado com a falta de humildade das pessoas reconhecerem isso. Eu tive o cuidado de marcar uma reunião com os alemães e apresentar o prefeito que ganhou as eleições, para que pudesse dar sequência naquilo que já estava definido.
Poços Já: Há críticas quanto à redução da jornada de trabalho do servidor, que teria aumentado o pagamento de horas extras e a contratação de pessoas.
Paulinho: Nós reduzimos as despesas de telefone, luz, água, de uma série de coisas, além do benefício social para o servidor. Hora extra na prefeitura sempre existiu. Existem profissionais contratados para seis horas, oito horas, plantão. Acabamos tendo que fazer uma série de adequações porque se você quer melhorar atendimento na saúde precisa de pessoal. Muitas vezes não podia ter concurso, porque eram programas. Então aumentava o número de servidores ou pagava um pouco mais de hora extra, mas nunca deixou de existir esse volume de hora extra. E nas outras áreas com certeza diminuiu muito. Na área administrativa você não tem por que pagar hora extra. Na saúde e na educação paga muita hora extra e vai continuar pagando em qualquer circunstância.
Poços Já: A sua avaliação hoje é que isso compensa?
Paulinho: Eu acho que compensa. Eu tive o cuidado de primeiro fazer por decreto para poder fazer o estudo. Porque caso realmente as contas não fossem favoráveis é óbvio que voltaria do jeito que estava. E deu tão certo que nós transformamos em lei. Hoje é lei e eu tenho muito receio, porque existiam alguns movimentos tentando trazer para oito horas de novo. Eu acho que não é um benefício e não vai alterar em absolutamente nada. Veja quanto custava telefone, água, luz, antes e depois das seis horas.
Poços Já: Durante a campanha de 2012 houve uma guerra entre você e o Geraldo Thadeu, com o Eloísio correndo por fora. Foi a estratégia certa?
Paulinho: Nós rachamos o nosso grupo, o Geraldo fazia parte do grupo, e esse racha proporcionou a vitória do Eloísio. É claro que ele venceu, e eu tive o cuidado de desejar toda a sorte, torço por Poços de Caldas. Eu não acho que ele venceu as eleições, nós é que perdemos. Teve seus méritos também, porque teve votação suficiente. Mas foi uma estratégia do racha do nosso grupo que proporcionou. Perdemos por uma diferença muito pequena. Acabei, sozinho, vencendo o Geraldo, o Navarro, o Mosconi, mesmo sozinho venci esse grupo forte. Mas hoje a gente reconhece que estrategicamente foi um erro. Não tenho dúvida disso.
Poços Já: Você está pensando em se candidatar na próxima eleição para prefeito?
Paulinho: Está caminhando para isso. Eu tenho ouvido muito nas ruas as pessoas me estimulando. Nós temos hoje oito partidos organizados sob o nosso comando, montando belas propostas e nomes de candidatos diferentes para a Câmara de Vereadores. E discutindo um projeto para Poços de Caldas. Tenho conversado com a Regina Cioffi, com o Geraldo. Chega um momento que você tem que esquecer as diferenças do passado e pensar que a cidade é mais importante. Os demais não. O PSDB com o DEM eu sei que já definiram o candidato e portanto não nos aceitam no grupo deles. O candidato pode vir a ser eu, pode via a ser o outro. Temos conversado inclusive com o PMDB, com o PTB.
Poços Já: Mas você gostaria de ser o candidato?
Paulinho: Se precisar, eu vou. Acho até que o próximo prefeito vai ter muita dificuldade com essa crise que até enfrenta o prefeito atual. Temos que reconhecer que nenhuma prefeitura está em situação fácil. Por isso eu defendo o federalismo, que é um maior volume de recursos para o município. Acho que o próximo prefeito, eu ou quem vier a ser, vai ter muita dificuldade porque vai receber uma prefeitura com muitos problemas, muito diferente daquilo que eu deixei. Mas não atribuo isso ao prefeito, atribuo ao momento econômico que o Brasil atravessa.
Poços Já: Qual a sua avaliação do governo Eloísio?
Paulinho: Eu tenho muito respeito pelo prefeito, acho uma pessoa de muito bom caráter, muito bem intencionada. Mas acho, e é achismo mesmo, que ele compôs um governo com pessoas de fora, que não conhecem a realidade da cidade. Isso tem trazido para ele alguns deslizes na administração no aspecto de gestão. Eu não vou falar no aspecto de caráter, idoneidade, de moral. Mas no aspecto de gestão tem comprometido e a população está percebendo isso.
Poços Já: Quais deslizes?
Paulinho: Falta de geração de emprego, a segurança pública é terrível. A secretaria de Defesa Social teve muitos projetos abandonados e hoje está aí o reflexo. A cidade vive a interferência de pedintes e pessoas em cada semáforo, a criminalidade aumentou demais. E a própria questão da saúde. A primeira secretária que veio não tinha nenhum compromisso com a realidade da cidade em relação à saúde e cortou muitos atendimentos básicos e que realmente comprometem hoje o funcionamento da saúde, que está bastante precária. Eu não fecharia a Policlínica. Quando eu trouxe a UPA para Poços de Caldas era no sentido de ampliar o atendimento para Poços e região. Em saúde você não encerra nada, só amplia. Acho que foi um erro a Policlínica ter sido fechada. Outro erro foi não investir maciçamente naquilo que a gente já deixou encaminhado, que foi o Centro de Convenções, Paço Municipal, pegar firme no projeto aprovado de reforma do aeroporto. Nós deixamos área desapropriada e projeto aprovado do presídio e nada aconteceu. Tem muita coisa que era só dar sequência, eu acho que é falha de gestão. É claro que eu estou falando de fora, o prefeito tem seus argumentos, suas justificativas, mas é preciso ter uma postura mais firme para que essas coisas realmente aconteçam.
Poços Já: Acabamos de ter mais um aumento na conta de energia elétrica. Como você vê a administração do DME?
Paulinho: A energia em Poços de Caldas sempre foi uma referência, temos que fazer uma referência ao Dr. Cícero, um visionário na questão de energia elétrica que transformou Poços de Caldas. Mas vem a crise energética e como tudo é regulado pela ANEEL você tem que seguir as determinações. É claro que tem que ter um cuidado nos investimentos, porque o recurso do Departamento Municipal de Eletricidade é muito próximo do orçamento da prefeitura. É uma instituição que é do povo de Poços de Caldas. O Conselho do Consumidor é muito sério, que está acompanhando muito de perto, e eu respeito o que defendem que o aumento não deveria ser como está se propondo. O departamento é do município, tem seus próprios recursos, e isso tem que ser transformado em benefícios, se possível em uma tarifa mais barata.
Poços Já: Você acredita que houve algum erro no seu mandato?
Paulinho: Eu errei também. Tive vários momentos que tive que recuar, tem que ter humildade. Um dos grandes erros que tive na minha administração foi o investimento na implantação do transporte coletivo regionalizado. Achávamos que era o melhor caminho, até porque existia o encaminhamento de um TAC com o Ministério Público, tinha que implantar o sistema integrado. Eu acreditei num estudo feito pela empresa de transporte coletivo, que apresentou um projeto, nós acreditamos e foi um desastre. População não aceitou, foi o pior momento da minha administração. Tive uma queda de popularidade enorme. Tive que assumir porque eu era o prefeito, mas não era um projeto que eu criei. Felizmente também tive o cuidado de recuar e ir voltando da forma como era, mas hoje nós temos alguns terminais regionais que não têm função nenhuma. Temos que ter opção para o futuro. Pensar.