Luiz Antônio Batista foi prefeito de Poços de Caldas de 1993 a 1996. O engenheiro fala do seu governo de forma tranquila, sem demonstrar exageros. Mas quando falamos dos dias de hoje, surge uma certa exaltação. Representante do tecnicismo, ele reclama com veemência da falta de planejamento no governo municipal.
Na segunda entrevista da série com ex-prefeitos, Luiz Antônio também critica a retirada de recursos do DME para pagamento das dívidas da prefeitura, diz que o turismo em Poços de Caldas é arcaico e chama atenção para possíveis problemas de abastecimento de água nos próximos anos.
Poços Já: Como começou o seu envolvimento com política?
Luiz Antônio: Quando me formei em engenharia fui para São Paulo. A empresa em que eu trabalhava ganhou a concorrência para fazer a fundação do estádio municipal, na época o prefeito era o Ronaldo. Eu vim pra cá para fazer as fundações e tive contato com o Ronaldo, ele ia todo dia lá. Aí voltei para São Paulo, passou um tempo e resolvi vir morar em Poços. Quando eu vim pra cá, passou um tempo e ele acabou me chamando para ser secretário de planejamento da prefeitura. Isso foi em 1979.
Poços Já: E como surgiu a oportunidade para se candidatar a prefeito?
Luiz Antônio: Em 88 teve eleição para prefeito, o Navarro foi candidato e venceu. Na época, a campanha dele foi muito em cima do grande problema que tinha em Poços, de abastecimento de água. Faltava muita água em Poços, tinha muitos bairros que não eram abastecidos por água tratada. Ele foi eleito e me chamou para ser diretor do DMAE. Eu fui com essa missão, de fazer um projeto de abastecimento de água para a cidade. Nós corremos atrás, fizemos projeto, fomos atrás de financiamento. Conseguimos o financiamento, foi feita a Estação de Tratamento, a ETA V. É a estação responsável pelo maior volume de tratamento de água da cidade. Com isso, resolveu-se um grande problema e eu acabei tendo um destaque dentro da administração. Na época não tinha reeleição. Com isso, acabei surgindo como uma opção. Fui candidato do grupo, na época era o PFL, venci as eleições e assumi.
Poços Já: Como o senhor vê a questão do planejamento em Poços?
Luiz Antônio: Hoje, acho que a maior carência que tem na cidade é planejamento. O meu sucessor foi Geraldo Thadeu, que fez um projeto de redução administrativa da prefeitura. A secretaria de planejamento de Poços era muito bem estruturada, inclusive era uma secretaria reconhecida. Ele fez essa reforma administrativa na prefeitura e juntou secretarias. Ele juntou Obras com Planejamento, acabou não dando certo, mas ele acabou desestruturando essas secretarias. Muitos dos elementos que estavam lá foram embora e acabou totalmente a estrutura que existia. Daí pra frente eu acho que nunca mais houve interesse em montar novamente essa estrutura. Na minha época como prefeito, a Secretaria de Planjamento foi fundamental. Exatamente quando nós conseguimos fazer muitas obras na cidade e até mesmo reorganizar o apoio para trazer indústrias para cá, como foi o caso da Ferrero. Tentei a Volkswagen e outras coisas. Mas hoje o planejamento da cidade não existe, não se planeja mais, tudo que se faz em Poços é de improviso. Eu acho que um dos motivos para a cidade estar regredindo e sem perspectiva e futuro é exatamente a falta de planejamento.
Poços Já: E, como ex-diretor, como o senhor vê a administração do DMAE?
Luiz Antônio: O DMAE está sobrevivendo bem, porque a partir da ETA V conseguiu abastecer a cidade. O projeto foi feito na época para uma projeção de 200 mil habitantes em um período de 20 anos. Isso foi feito em 1989, 90. Na verdade, a cidade não teve o crescimento populacional que a gente esperava e hoje a estação ainda atende às necessidades. Mas já deveriam estar sendo estudadas pelo menos algumas novas opções para o futuro, porque praticamente nós estamos no planalto e a água aqui já está bem no limite do que pode ser conseguido. O que viabilizou a estação foi a construção da Represa do Cipó. A água a gente vai ter que buscar lá no Rio Pardo, bem mais baixo que aqui. Acho que essas coisas já deveriam estar sendo estudadas. Não se planeja, Poços de Caldas há muito tempo deixou de pensar no futuro. O que está sendo feito é correr atrás de verbas, sem saber para quê, sem objetivo nenhum. Esse é o grande problema da cidade.
Poços Já: E o Plano Diretor, além de estar desatualizado, nem sempre é respeitado.
Nós fizemos o diagnóstico de Poços, que foi praticamente o primeiro documento que Poços teve em termos de planejamento. Depois disso, na Constituição de 1988, começou a se impor a necessidade de todo município ter o seu Plano Diretor. Esse plano foi feito na época do Navarro, ficou pronto em 1992, eu assumi em 1993 ele estava na fase de acabamento. Eu assinei o primeiro Plano Diretor da cidade. Mas é uma coisa muito dinâmica, chegou um momento em que grandes transformações começaram a acontecer. Plano Diretor é para o momento. Esse Plano tinha que ter sido revisado. Foi assinado em 93 e a primeira revisão aconteceu só em 2007, novamente com o Navarro prefeito. Era para ter sido feito em 2003, o Paulo Tadeu tentou fazer e não conseguiu. A terceira versão era para acontecer cinco anos depois, já na administração do Paulinho. Ele não conseguiu fazer e esse que está aí também muito menos, acho que ele nem sabe o que é Plano Diretor, não tem nem ideia do que seja isso, nunca leu.
Poços Já: Como o senhor avalia a situação econômica da cidade hoje?
Poços é uma cidade que sempre esteve à frente da média dos demais municípios de Minas e até do Brasil. Tinha uma potencialidade muito grande que era sempre explorada. Primeiro foi o café, depois a fase das águas termais, porque na época a medicina explorava muito o termalismo. Quando fechou o jogo, a cidade teve um baque violento. Logo depois, o termalismo acabou sendo uma coisa ultrapassada em termos curativos. Veio na época exatamente a descoberta das jazidas de urânio na cidade, que acabou trazendo a Alcoa para cá. A Alcoa, durante muito tempo, explorou nossas jazidas de alumínio. Não só explorava, mas pôs a fábrica aqui em Poços, agregava para o município. Mas a gente sabia que isso ia acabar um dia. Eu sempre bati nessa tecla: o turismo não sustenta Poços mais, nosso turismo ficou para trás, é arcaico. As pessoas vêm em Poços pela fama de Poços, não existe quem não conheça. E a parte industrial estancou na Alcoa. Na época eu procurei novas alternativas para a indústria, tentei a Volkswagen, que não veio para cá por pressão do governo de São Paulo. Mas trouxe a Ferrero, foi um primeiro passo. E parou, não se fez mais nada nesse sentido.
Poços Já: E quanto ao DME?
Poços virou uma cidade que não consegue fechar as contas dela, a despesa é maior que a receita. É uma cidade falida. Vai destruir o DME, que está explorado acima das possibilidades, sujeito a uma hora acabar esse dinheiro. Esse é um lucro da prefeitura, mas que fosse utilizado para buscar o desenvolvimento da cidade, para trazer projetos para a cidade. Esse prefeito já pegou cem milhões de reais dos cofres do DME para cobrir o rombo da prefeitura. Isso é inadmissível. E a hora que acabar? Vamos ficar sem DME e sem recursos? Todas as prefeituras do Brasil estão em situação difícil. Hoje não tem dinheiro para investimento, mas tem que equilibrar. Aqui em Poços não está buscando o equilíbrio, vai buscar no DME. Não sou contra pegar dinheiro do DME, acho que deve pegar. Mas para um projeto específico, voltado para o desenvolvimento da cidade. Estamos vivendo um período extremamente preocupante, porque as contas não fecham e ninguém está preocupado em reduzir despesas. Se fosse na iniciativa privada, a prefeitura seria uma empresa falida esperando as portas fecharem.
Poços Já: Além do que já foi dito, quais foram suas principais realizações enquanto prefeito?
Trouxe a PUC e trouxe a UNIFENAS. Hoje nós temos seis mil alunos na cidade. Traz dinheiro para a cidade, movimenta o comércio. Como eu tive uma experiência grande dentro da secretaria de planejamento, eu busquei que a cidade tivesse toda a reestruturação possível para que ela pudesse crescer, desenvolver, sem afetar a qualidade de vida. Nós fizemos grandes investimentos, desde educação até a saúde, mais a Rodovia do Contorno. Vocês imaginam o que seria o trânsito de Poços hoje se não tivesse a Rodovia do Contorno? Todo o trânsito passava aqui no Centro da cidade. A minha posição naquela época, e que hoje não mudou nada, é crescer com planejamento. Hoje não tem planejamento.
Poços Já: O que o senhor acha que o próximo prefeito precisa ter?
Tem que ser eleita uma pessoa que, em primeiro lugar, vá para a prefeitura com o intuito não político, mas o intuito de fazer essa reforma que precisa ser feita na prefeitura. O próximo prefeito vai sofrer, porque vai pegar uma prefeitura com déficit violento. O Eloísio está abusando da transferência de recursos do DME, ele vai deixar o próprio DME em situação difícil. E a cidade sem perspectiva.
Poços Já: O senhor pretende se candidatar novamente?
Eu defendo que tem que ter renovação, buscar gente nova. Tem que buscar gente com ideia nova, já fiz a minha parte, não tenho essa pretensão. Eu contei meu histórico, você viu que foi muito mais técnico do que político. Hoje eu não sou nem filiado a partido político. Com exceção do PT, que eu já fui até ligado, quando o Paulo Tadeu era prefeito estivemos várias vezes conversando, eu tenho acesso a todos os partidos, converso com todo mundo. Não tenho pretensão, não quero buscar nada.
Poços Já: O senhor acredita que o próximo ciclo econômico da cidade seja ligado à indústria?
A industrialização, de um modo geral, acho que é uma alternativa. Mas não a indústria de qualquer coisa. A gente tem que buscar pelas condições que Poços ainda oferece. Poços é uma cidade planejada, teve lá atrás um planejamento. A gente tem que usufruir disso ainda, a cidade oferece uma qualidade de vida boa para quem vem morar aqui. Isso é um incentivo para os empresários. Perto de São Paulo, tem uma estrutura boa, aeroporto, tem tudo. Então que se vá buscar. Agora, a gente está em uma fase do Brasil que está difícil buscar investimento. Hoje eu acho que não vai ser só uma linha, o turismo ainda vai continuar sendo explorado. Mas eu acho que deve ser explorado o turismo de eventos, porque a gente tem uma estrutura boa para isso. As universidades são um bom campo que pode continuar sendo explorado, a prestação de serviços é um filão bom. Temos que trazer empresas que vão explorar quem tem nível universitário, de alta tecnologia. É difícil? Lógico que é. É o sonho de todo mundo, mas temos que buscar.