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Poços de Caldas

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Médico e gestor, nacionalmente reconhecido

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Além de prefeito, Adnei foi duas vezes secretário de saúde de Poços de Caldas.
Além de prefeito, Adnei foi duas vezes secretário de saúde de Poços de Caldas.

O Poços Já Entrevista começa hoje uma série com ex-prefeitos de Poços de Caldas. Para abrir, o médico psiquiatra Adnei Pereira de Moraes. Chefe do Executivo de 1986 a 1989, foi eleito com 72% dos votos, o que representa a maior votação até hoje.

Ele também fez história quando tornou-se o primeiro secretário de saúde local e quando participou do processo de criação do SUS. Trabalhou no Ministério da Saúde em diversas gestões, de Itamar Franco a Lula. Certamente, é o profissional mais capacitado para discutir o sistema público de saúde em Poços de Caldas. Para ele, a situação hoje está caótica. Critica a vinda de secretários de outras cidades, o que acontece na gestão do prefeito Eloísio Lourenço, e diz que não teve autonomia quando passou pelo governo Paulo César Silva.

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Poços Já: Como começou o seu interesse por políticas públicas?

Adnei: Eu sou daqui, fui para Brasília. Lá eu terminei o segundo grau, fiz faculdade e especialização em psiquiatria e voltei. Cheguei aqui em Poços de Caldas e logo percebi que aqui não tinha secretaria de saúde. Procurei o prefeito da época, que era o Ronaldo Junqueira e, junto com colegas mais antigos, que eram pessoas já bem consolidadas na cidade. Ele disse que a saúde era coisa federal, do INPS. Isso foi em 1982. Para criar a secretaria de saúde tinha que entrar na vida pública, na vida política.

Poços Já: O senhor foi eleito vereador. Depois, como foi o processo de criação da secretaria?

Adnei: Tancredo Neves nomeou, sabiamente, o José Aurélio Vilela para prefeito, que era um funcionário do Banco do Brasil e primo do Aureliano Chaves. Eu convenci o José Aurélio a mandar um projeto de lei da secretaria para a Câmara. Fiz toda a minuta de como ia funcionar, mas a iniciativa foi do Executivo. Contrariando a minha proposta, ele mandou com recurso de prazo, um instrumento que tinha na ditadura, na época, que se ficasse quarenta e cinco dias sem ser votado era aprovado automaticamente. O projeto começou a correr e os vereadores que eram contra começaram a pedir informação, atrasando a aprovação do projeto. No início de outubro de 83, o doutor Jofre José Ferreira Santos, presidente da Câmara, pegou o projeto e disse: “Passaram-se quarenta e cinco dias. Está aprovado o projeto por decurso de prazo”. E aí eu assumi a Secretaria de Saúde.

Poços Já: Quais foram as primeiras ações na secretaria?

Adnei: Em dois meses tinha quatro postos de saúde inaugurados. Em três anos, tinha dezessete postos de saúde na zona urbana e rural. Foi isso que me conduziu à prefeitura. Eu fui procurado em casa para ser candidato a prefeito. Fui concorrer contra o Ronaldo Junqueira, aquele que não queria criar a Secretaria de Saúde e que tinha sido prefeito nomeado por nove anos. Quando saíram as pesquisas, ele saiu com 45% e eu com 4%. Comecei a fazer um trabalho nos bairros, comícios e acabei sendo eleito com a maior votação da história da cidade, 72% dos votos válidos.

Poços Já: Enquanto prefeito, quais foram suas principais conquistas?

Adnei: Criei projetos muito interessantes, como o projeto Curumim, que oferecia ocupação para as crianças fora do horário de aula. As que estavam em recuperação iam para centros para ter aulas de reforço. O projeto era coordenado pela Terezinha Mesquita, que hoje é diretora da escola Criatividade, e chegou a atender trezentas crianças nos bairros. A taxa de mortalidade infantil, que era 82 por mil, caiu para 42 por mil, e foi caindo ainda mais. Impacto da criação da Secretaria de Saúde. Poços corria o risco de ficar sem água e contratei uma empresa de São Paulo para fazer um estudo. Eles fizeram um relatório que mostrava que a única alternativa era fazer uma barragem no ribeirão do Cipó, com captação, estação de tratamento e bombeamento de água. A outra alternativa era bombear água do Rio Pardo, fora dos 30 quilômetros da cratera. Fizeram o projeto e entregaram no final da minha gestão. O prefeito que me substituiu foi o (Sebastião) Navarro com o Ronaldo (Junqueira) de vice. O Navarro assumiu a responsabilidade de fazer a obra, nomeou o Luiz Antônio Batista como diretor do Dmae e fizeram. Se não fosse isso, Poços teria um sério problema de abastecimento de água.

Poços Já: Como o senhor avalia a gestão do prefeito Eloísio, em relação à saúde?

Adnei: A saúde está caótica, está muito ruim. A primeira secretária que ele trouxe é uma pessoa muito experiente, a Cidinha, que eu conhecia. Ela saiu e nomeou outra para colocar no lugar, essa eu não conheço. O problema é o seguinte: a pessoa vem de fora e é muito difícil conhecer a realidade local. Tem que passar um tempo para conhecer a realidade local. Por mais competência que ela tenha, a coisa não andou. Está muito ruim a secretaria de saúde aqui de Poços.

Médico psiquiatra, Adnei acompanhou a criação do Sistema Único de Saúde (SUS).
Médico psiquiatra, Adnei acompanhou a criação do Sistema Único de Saúde (SUS).

Poços Já: Qual a sua opinião sobre o governo Eloísio, em geral?

Adnei: O prefeito eu conheci porque ele era presidente do Conselho Municipal de Saúde, quando eu fui secretário. Ele é uma pessoa séria, só que ele não era o querido do partido. Eu soube que na convenção eles tinham escolhido ele, mas chegou na última hora e queriam fazer um acordo. Ele só acabou sendo prefeito porque bateu o pé e teve apoio. Ele deve ter dificuldade com o partido, porque o partido é muito difícil administrar. No PT tudo tem que ser discutido, fica numa coisa que não rende, demora para tomar decisão e tem sempre um grupo contra. Foi a experiência que eu tive no Ministério da Saúde.

Poços Já: Para o senhor, qual o principal desafio da prefeitura?

Adnei: É a questão financeira. Eu soube que a prefeitura está numa situação gravíssima, a dívida é enorme. Tem que cortar custos. Eu faria isso, como eu fiz. Sofri no começo, mas cortei custos mesmo. Eu fazia licitação para posto de saúde, mas ficava tudo muito alto. Fazia outra, negociava os preços para baixo. Agora, quando você pega pessoas com outros interesses, aí é fogo.

Poços Já: O senhor participou da criação do SUS?

Adnei: Quando o Carlos Mosconi foi convidado pelo presidente Itamar Franco para ser chefe do Inamps, ele me chamou para ser chefe de gabinete. Fui pra Brasília e lutamos para acabar com o Inamps. Havia muita corrupção no Inamps e o Mosconi convenceu o Itamar a implantar o SUS. Começaram as municipalizações, começou a descentralização das ações e os pagamentos passaram a ser feitos pelos secretários de saúde. Vem uma parte do Governo Federal, mas passa para o Fundo Municipal da Saúde. É um dos melhores sistemas do mundo.

Poços Já: Como foi a sua gestão em relação ao DME?

Adnei: Em Poços tinha só setenta e poucos por cento de captação de esgoto e eu elevei pra 98%. Elevei pra 99% a distribuição de água e 100% a de energia. Na minha gestão, o Cícero (Machado) foi o meu diretor do DME. Ele me pediu para assumir e eu disse que o nomearia se ele assumisse o compromisso de fazer algumas coisas que eu estava querendo. Não pode ter nenhum munícipe sem energia elétrica em casa. Eu queria 100% de energia elétrica, financiar o quanto fosse possível. Sabe quantas pessoas nós achamos em Poços sem energia elétrica? Cento e vinte pessoas, duas do DME. Nós chegamos a 100% de energia.

Poços Já: O que mais o senhor destaca?

Adnei: Aqui tinha uma favela. Você conhece a rua Monsenhor Alderige? Ali não era asfaltado e tinha um córrego no meio. Era terra, dos dois lados. TInha 85 barracos, pessoas que invadiram ali. Ai eu fiz um projeto de acabar com a favela. Fizemos as casas, umas perto da garagem da prefeitura e outras no Country Club. No último dia da minha gestão, eu entreguei as 85 casas em um sorteio. Tem até uma curiosidade. As casas eram de tijolão, mas as janelas e portas eram pintadas. A arquiteta falou que não queria fazer tudo igual, colocou amarelo, vermelho, verde. Antes de entregar as casas eu recebi uma comissão de mulheres já na prefeitura: ‘Doutor, estamos muito felizes mas tem um problema. Tem umas casas que as janelas e as portas são vermelhas. Isso aí é casa de muié-dama’. Eu tive que mandar pintar todas as portas e janelas vermelhas antes de entregar.

Poços Já: Como era a sua relação com a Câmara?

Adnei: Eu não posso dizer agora que foi um mar de rosas em relação à Câmara. A Câmara me sacaneou demais da conta. Eu mandei criar uma empresa municipal de turismo, fiz um projeto, conversei com diversas pessoas do setor hoteleiro, e a Câmara não aprovou. O Walter Miguel foi meu secretário de turismo. Eu falei pra ele fazer um negócio de brinquedo, tipo a Disney, aqui em Poços. Nós fomos para a Cidade da Criança, o Playcenter, e eles estavam dispostos a montar. Consegui apoio deles. A gente precisava só criar uma empresa, mas a Câmara não aprovou. Eu queria fazer uma empresa municipal de obras públicas, para acabar com a secretaria de obras, porque a administração é morosa. As autarquias têm muito mais agilidade para resolver as coisas, mas a Câmara não aprovou. Era pedido de informação o tempo todo. Você quer bloquear uma administração, enche de pedido de informação.

Adnei estudou medicina na UNB, onde começou a se interessar por políticas públicas.
Adnei estudou medicina na UNB, onde começou a se interessar por políticas públicas.

Poços Já: O senhor percebeu muitas diferenças quando voltou a ser secretário, na gestão do Paulinho?

Adnei: Muita. Além da cidade ter crescido muito, hoje os vereadores acabaram descobrindo uma forma de fazer pressão que é tudo cheio de ‘nhe nhe nhém’, tudo cheio de ‘não me toques’. É muito mais difícil lidar hoje com a Câmara do que foi no meu tempo.

Poços Já: Como foi a sua experiência como secretário de saúde do Paulinho?

Adnei: A minha experiência não foi boa, eu não tive autonomia. Foi difícil meu período lá, esses cinco meses. O Paulinho perguntou por que eu estava pedindo demissão. Eu falei: “Eu não tenho o perfil”, e o meu adjunto, o João Guilherme, também falou a mesma coisa. A minha carta de demissão teve duas linhas.

Poços Já: Não tinha autonomia por causa da Câmara ou do Executivo?

Adnei: Em relação ao Executivo. Coisas que eu queria fazer e não podia. Por exemplo: essa academia a céu aberto, não é uma maravilha? Eu tinha conhecimento disso, entrei em contato com a fábrica, me mandaram vinte filmes, eu passei na prefeitura para os secretários. Em Maringá, diminuiu em 22% o uso de anti-inflamatório nos idosos, em 25% o número de consulta dos idosos na rede pública. Custava R$19 mil cada academia, a prefeitura iria só instalar. Quando eu saí, saíram as academias. Então, eu entendi que ele não queria me ver crescer dentro da secretaria, aparecer, com medo que eu fosse candidato a prefeito, porque já tinha acontecido isso comigo.



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