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Poços de Caldas

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Do rádio para a política

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Antônio Carlos Pereira (DEM) foi eleito vereador pela primeira vez em 1988.
Antônio Carlos Pereira (DEM) foi eleito vereador pela primeira vez em 1988.

Assim que entramos na sala, o vereador conta que o dia é de reflexão. A entrevista ocorreu na quinta-feira (18), exatamente um ano depois da morte do radialista Lázaro Walter Alvisi, amigo e ídolo de Antônio Carlos Pereira.

Em uma conversa com pouco mais de meia hora, Antônio Carlos demonstra dúvidas em continuar no mundo político. Aos 60 anos, ele cogita a hipótese de estar no último mandato. Quando o assunto é o ex-prefeito e deputado Geraldo Thadeu, a mágoa é evidente. Sobre a administração atual, o líder da oposição não economiza críticas.

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Poços Já: Como começou a sua carreira na imprensa?

Antônio Carlos: Desde criança eu sempre tive vontade de trabalhar em rádio. Em 1974 eu trabalhei na antiga estação rodoviária em uma cabine de som que anunciava partida de ônibus. Nessa época a gente anunciava: “Atenção passageiros com destino a Águas da Prata, São João da Boa Vista, Mogi Guaçu, Mogi Mirim, Campinas, São Paulo. Queiram ocupar os seus lugares e boa viagem”. Era todo dia isso.

Em 1979 eu às vezes escrevia alguma coisa para o jornal Diário de Poços, já extinto. O saudoso Sebastião Pinto que havia me dado oportunidade de escrever alguma coisa no Diário de Poços. Ele era gerente da Rádio Difusora, que era de propriedade do Monsenhor Trajano e do Padre Romeu, da Igreja Católica. Aí eu falei com ele: “Deixa eu fazer um teste lá na rádio”. Eu fui aprovado no teste e comecei a fazer um programa aos sábados, na Difusora, chamado Beatlemania. Só tocava música dos Beatles. Mas o meu sonho mesmo era ser repórter esportivo.

Poços Já: E como conseguiu ser repórter esportivo?

Antônio Carlos: Eu ficava nos jogos da Caldense, no Cristiano Osório, puxava fio para os repórteres da Rádio Difusora. Aí um dia o Celso Saraiva se desentendeu com a direção da rádio e o Chico Antônio, que era o chefe da equipe, me chamou e perguntou se eu poderia fazer a reportagem do jogo Caldense e Democrata de Valadares. A Caldense ganhou de quatro a um. E a Caldense estava em um momento meio difícil, o time não era bom, o técnico era o João Francisco. O jogo foi uma fogueira, porque o João Francisco, quando a Caldense fez um gol, partiu pra cima da torcida. Sobrou cerveja, guaraná. Isso aconteceu no dia 18 de maio de 1979. Foi o primeiro jogo que eu participei.

Poços Já: Depois você foi para a Rádio Cultura?

Antônio Carlos: Quando chegou em setembro de 79 a Rádio Cultura precisou de um repórter. A Caldense ia disputar o Campeonato Brasileiro. Era uma equipe top. Eu tinha feito um trabalho muito bom na inauguração do estádio, quando o Corinthians aqui esteve. Pra você ter uma ideia, eu cheguei a tirar o Palhinha e o Sócrates da cama para dar uma entrevista ao vivo em um programa de rádio que tinha na hora do almoço. Como eles estavam precisando e eu também sabia dirigir, eu fui.

Poços Já: Na Rádio Cultura, você também começou a apresentar programas.

Antônio Carlos: Em 1981, no dia 11 de julho, faleceu o grande radialista Eduardo Paiva, que era um ícone do rádio aqui em Poços de Caldas. Tão logo terminou o sepultamento do Eduardo Paiva, numa segunda-feira, a direção da rádio me chamou lá e falou: Você vai ocupar o lugar do Eduardo Paiva. Eu tinha dois anos e pouco de rádio, para mim foi uma grande emoção. Eu era fã do Eduardo Paiva, era ouvinte, ganhei muitos prêmios respondendo pergunta no programa dele. Fiquei até 83 na Rádio Cultura, depois fomos para a Rádio Difusora e lá fiquei até 2011 quando encerramos o contrato, não foi renovado. É uma carreira na imprensa desde 1979. São 36 anos, graças a Deus. Graças a muitos amigos que me ajudaram também.

Poços Já: Como foi o início na política?

Antônio Carlos: Em 1982 eu já tinha vontade de me filiar a um partido. O Lázaro Walter Alvisi, meu padrinho de rádio e de casamento, era filiado ao PDS juntamente com Ronaldo Junqueira, esse pessoal todo, Roberto Junqueira, Navarro. Eles me convidaram para filiar em 1982. Foi a minha primeira experiência como candidato, uma eleição muito difícil. Não tinha eleição para prefeito, só para vereador aqui em Poços de Caldas. A lei não permitia a eleição para prefeito em estâncias hidrominerais. Não consegui me eleger, mas continuei ao lado sempre do Lázaro, procurando acompanhar os fatos da política, como apresentador de programa de rádio e tudo mais. Aí em 1988 eu tive a sorte, com o apoio do povo de Poços de Caldas, de me eleger pela primeira vez como vereador já pelo PFL, que era o partido sucessor do PDS.

Poços Já: Seus programas de rádio sempre foram populares. Eles te ajudaram a ser eleito nesses seis mandatos?

Antônio Carlos: Com certeza. Se não fosse o rádio eu não teria chegado nunca a ser eleito vereador. Quando nós fomos para a Rádio Difusora eu sugeri ao Lázaro, à direção da Rádio Difusora na época, a criação de um programa popular chamado “Difusora vai à Feira”. Então todo sábado a gente estava ali, de oito às dez da manhã na feira. Era muito legal, conheci muita gente ali. O meu trabalho, por exemplo, sempre foi voltado para atender a população. Fazer do rádio um veículo de comunicação para a população pedir, reclamar, elogiar, sugerir. Então eu acho que realmente isso foi um fator que me ajudou muito a ter tido sucesso nas eleições que disputei.

Antônio Carlos trabalhos nas rádios Cultura e Difusora, como apresentador e repórter esportivo.
Antônio Carlos trabalhos nas rádios Cultura e Difusora, como apresentador e repórter esportivo.

Poços Já: O que mudou quando você se tornou tão popular?

Antônio Carlos: Mudou da água para o vinho. Eu era novo ainda quando me elegi pela primeira vez, trinta e poucos anos. Tudo na vida é passageiro, então procurei continuar tratando as pessoas do mesmo jeito ou até melhor, não mudar, não ficar de salto alto, não achar que a gente é dono do mundo. E outra coisa: todas as vezes que eu ganhei uma eleição, no outro dia eu estava lá no programa de rádio, fazendo questão de agradecer. Eu acho que isso marca. Inclusive, quando eu perdi uma eleição por sete votos, em 2004, no outro dia, com muita dificuldade, eu fui lá encarar os ouvintes do programa que eu tinha na Rádio Difusora, das dez ao meio dia. A gente tem que ter respeito pela população, pelo eleitor, por todos, pela imprensa, que sempre me ajudou muito também.

Poços Já: Qual a sua maior conquista enquanto vereador?

Antônio Carlos: Muita coisa. Eu participei, por exemplo, da elaboração do Plano Municipal de Habitação Popular, que beneficiou milhares de pessoas. Hoje nós temos o bairro Maria Imaculada. Quando ele foi implantando não tinha casa nenhuma, era um fim de mundo aquilo. O Nova Aurora, que também foi lançado quando tinha só o Jardim Ipê começando, e o Jardim Formosa do lado. Quando foram entregues os terrenos do Parque Esperança foi um dia que eu não esqueço. Foi um domingo, de 1992. O Brasil estava disputando a medalha de ouro no vôlei. Eu saí de casa e falei: “Nossa, o Brasil vai ser campeão de vôlei e eu não vou assistir”. Mas eu fui lá para entregar os terrenos.

Poços Já: E no atual mandato?

Antônio Carlos: No atual mandato o que mais me orgulha foi ter levantado a bandeira da não aprovação daquela polêmica doação da área do horto florestal de Poços de Caldas. Às vezes, dizer um não também para determinado projeto, é muito importante. Mais importante do que apresentar um projeto de lei.

Poços Já:  Como você vê o atual momento político?

Antônio Carlos: A atividade política, não só em Poços, está sendo vista de uma forma muito negativa pela população. E eu não tiro a razão, porque os escândalos não param de surgir. É mensalão, petrolão, um monte de coisa. A gente não tem nenhuma participação, mas acaba o eleitor misturando os passageiros, achando que a gente também está no mesmo balaio.

Poços Já: Você tem vontade de se candidatar a prefeito?

Antônio Carlos: Prefeito não. Eu acho que as minhas oportunidades, se é que surgiram, acabaram ficando no passado. É talvez colaborar para que algum nome do nosso grupo político possa de repente disputar as eleições. Já estou com 60 anos de idade, seis mandatos, mais um de secretário, não sei se poderia ser a hora de finalizar a minha caminhada na política. Porque desgasta muito, a atividade política, não só em Poços, está sendo vista de uma forma muito negativa pela população.

Poços Já: Sua primeira eleição ocorreu logo depois do fim da ditadura militar. Você acredita que desde então os eleitores estão amadurecendo?

Antônio Carlos: Acredito que sim. Poços de Caldas é uma cidade politizada. Em outros tempos era impensável, em uma cidade como a nossa, que a população é conservadora, ter prefeito do PT. Em duas oportunidades a população resolveu mostrar a sua força através do voto. A eleição de 1996 Geraldo ganhou por 34 votos, então ficou uma dúvida na cabeça do eleitor. E nessa última eleição de 2012, essa briga, essa divisão do nosso grupo político, acho que foi um fator muito importante para proporcionar essa mudança no comando da cidade.

Poços Já:  Essa divisão fez o seu grupo perder força.

Antônio Carlos: A gente tinha um grupo político muito forte. Esse é outro problema da política, a palavra vaidade. As pessoas às vezes colocam primeiro os seus projetos pessoais na frente, deixando de lado o projeto da cidade. A gente tem que pensar na nossa cidade. Vaidade infelizmente só destrói, na vida e na política também. Só atrapalha.

Poços Já:  Como é estar na oposição?

Antônio Carlos: Na administração do PT eu fui oposição. E oposição realmente dura, mas pensando na cidade. Impedi uma série de irregularidades que eram propostas e a gente rejeitou aqui na Câmara, naquela oportunidade.

Poços Já:  Isso no mandato do Paulo Tadeu.

Antônio Carlos: É, Paulo Tadeu. Hoje eu continuo na oposição, mas a história mudou um pouco. A história do horto o prefeito insistiu, queria fazer o fórum. Mas não pode simplesmente descartar uma reserva ecológica. A gente questiona o que não é positivo, como a contratação dessa empresa Projeta, que é um verdadeiro absurdo. A prefeitura tem uma equipe de engenheiros projetistas que pode tranquilamente, nesse momento de crise, elaborar projetos para a própria prefeitura. A troca da empresa coletora de lixo, que custava um valor e hoje custa muito mais, quase o dobro. A gente está aqui levantando, questionando, todo dia. Escândalos, como desvio de verbas nas Thermas, na funerária, a gente está sempre cobrando. Tem que existir oposição.

Poços Já:  Como são os bastidores de votações polêmicas, como a do horto?

Antônio Carlos: No caso do horto a gente viu que a coisa poderia realmente se concretizar. Alguns empresários ajudaram, nós fizemos panfletos, contratamos uma distribuidora de panfletos, abaixo assinado na região. Outro momento que a oposição marcou ponto aqui foi na questão do aumento dos repasses do DME para a prefeitura. Nós batemos o pé contra e o projeto foi retirado. Eu acredito que tenha sido um ponto positivo do nosso trabalho de oposição.

Poços Já:  Como você avalia a atual administração?

Antônio Carlos: Está muito aquém da expectativa da população. Poços de Caldas nunca esteve tão mal cuidada como está hoje. Pontos turísticos abandonados, grande quantidade de andarilhos, pessoas desocupadas. O município investe milhões em Promoção Social, mas o trabalho não é bem feito. A gente não para de ver promessas de obras não realizadas, anunciaram os 74 milhões e não tinha nada. Foi só uma ilusão para o povo. Uma clara demonstração de querer ludibriar, de querer enganar. Esse projeto habitacional, Morada do Sol, nem saiu do papel. Os vereadores no ano passado votaram aqui mudanças na lei de uso e ocupação do solo, no Plano Diretor, para proporcionar a implantação desse loteamento que está parado, não tem nenhum projeto na Caixa Federal. A gente não vê futuro para a atual administração. Acho que ela vai caminhar melancolicamente até o final.

Poços Já: É clara a falta de verba em todas as esferas do governo, a crise econômica. Você acredita que outro prefeito teria as mesmas dificuldades ou é um problema de gestão?

Antônio Carlos: As dificuldades financeiras são inerentes, isso é normal. Se o prefeito está com dificuldade financeira tem que cortar gastos, começa por aí. Tem secretarias que poderiam ser acopladas em outras secretarias. Por exemplo, a Promoção Social. A secretária é completamente inerte, para mim não ia fazer falta nenhuma se ela não estivesse lá. E vários secretários adjuntos que temos aí também não fariam falta nenhuma. Eu só faço exceção ao secretário adjunto de Saúde, doutor Antônio Ângelo, que é um secretário atuante e trabalha até mais, na minha opinião, do que a própria secretária de Saúde. A Secretaria de Saúde é muito complexa. Tem algumas secretarias aí que não justifica ter secretário adjunto. E tem, ganhando bem. O prefeito tem que ter essa coragem e espero que o próximo prefeito tenha.

Antônio Carlos: Outra coisa que foi terrível para Poços de Caldas, uma herança que ficou da administração passada, é a redução da jornada de trabalho de oito para seis horas. Está impactando e vai continuar impactando até o fim da vida.

Poços Já: Quem pode ser o próximo candidato à prefeitura, pelo seu partido?

Antônio Carlos: É complicado esse contexto. Nós tínhamos três nomes de liderança, até quatro, que são até hoje conhecidos. Navarro, Mosconi, Geraldo e Paulinho Courominas. Isso se desintegrou. Hoje o Paulinho está de um lado, Geraldo está do outro e Mosconi e Navarro ainda estão no mesmo grupo. Outras pessoas foram surgindo no processo político. A certeza é que a gente deve ter um candidato, mas nunca estivemos em um momento de tanta indefinição como estamos agora.

Poços Já: Essa divisão do grupo continua prejudicando o seu partido.

Antônio Carlos: Foi terrível. Prejudicou na eleição para prefeito e para deputado. E pode prejudicar na próxima também. Cada um quer ter o seu grupo político. É complicado. Muito difícil, não sei sinceramente o que vai ser ano que vem. A certeza é que o DEM e o PSDB vão estar juntos. É a única coisa que eu posso dizer. Pelo andar da carruagem, tanto o Mosconi quanto o Navarro não pretendem mais disputar a eleição, já são políticos com idade fora da realidade para disputar. A disputa eleitoral é muito difícil, a campanha para prefeito é muito desgastante. Mas com os problemas que nós temos aqui em Poços de Caldas, tem que partir para uma renovação.

Poços Já: Como fica a sua relação com pessoas que não estão mais ao seu lado na política?

Antônio Carlos: Eu não tenho medo de dizer, eu me decepcionei muito com o Geraldo Thadeu. Sempre fui firme e leal com ele. Em todas as duas eleições para prefeito, nessa última também, em 2012, nós apoiamos de corpo e alma. Terminada a eleição ele já se uniu aos nossos adversários. Isso é uma coisa que dói muito. A impressão que ficou é que ele já estava até combinado com o PT. É uma dor que eu carrego comigo. A gente perde a confiança, o pior de tudo é isso. O Paulinho foi até um bom prefeito, na minha avaliação, mas também não soube conduzir, não teve aquele espírito de liderança. Ele pode até ser que participe desse grupo, mas com relação ao Geraldo Thadeu eu não vejo nenhuma possibilidade.

Poços Já:  Quem você gostaria que fosse candidato?

Antônio Carlos: Um dos melhores prefeitos que Poços de Caldas teve foi o Luíz Antônio Batista. Um prefeito realizador, inteligente, engenheiro, conhece bem a máquina. Mas eu acredito que ele não tenha mais disposição para ser candidato.

Poços Já: Qual seria então o nome mais forte?

Antônio Carlos: Hoje se tem um começo de possível candidatura do Sérgio Azevedo, da Coopoços. Engenheiro também,é jovem, dinâmico, empreendedor, é do PSDB, nosso companheiro. Acho que de repente pode ser ele um futuro nome para pelo menos estar nas cogitações.



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