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17.3 C
Poços de Caldas

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Mais mineiro do que paulista

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Chico de Assis comprou a Rádio Cultura em 1973.
Chico de Assis é proprietário da Rádio Cultura desde 1973.

Atrás da mesa, um grande quadro de São Francisco. Chico de Assis leva no nome o santo que o ajudou a nascer e até hoje protege seus negócios. Na outra parede, vários diplomas e homenagens recebidas pelo radialista e pela Rádio Cultura, uma prova da importância deste homem para a história de Poços de Caldas.

Na estreia da seção “Poços Já Entrevista”, Chico fala sobre a carreira, a vida pessoal, as mudanças pelas quais passa o rádio e critica os repórteres esportivos dos dias atuais, entre outros assuntos.

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Poços Já: Seus pais eram e o senhor também é devoto de São Francisco?

Chico de Assis: Sou devoto, por questão de pai e mãe. Quando eu nasci, minha família era muito humilde. Morava no sítio, em Presidente Prudente. Minha mãe, naquele tempo, não tinha como ir para hospital, ter assistência, e fez uma promessa para São Francisco de Assis. Se eu nascesse perfeito, me chamaria Francisco de Assis. Eu sou Francisco de Assis Araújo.  A minha devoção vem pela maneira que minha mãe gostava de São Francisco eu passei a gostar também. A nossa rádio é protegida por São Francisco.

Poços Já: O senhor nasceu lá em Presidente Prudente.  Como começou a trabalhar em rádio?

Chico de Assis: Eu comecei com o rádio porque a minha família é toda de radialista. Tenho um irmão, o Flávio Araújo, que é radialista de muitos anos e já está até aposentado. Ele me abriu as portas lá em Presidente Prudente e eu comecei lá garoto, com 14 anos.

Pra você ter ideia, eu vivo nessa vida há mais de cinquenta anos. Comecei moleque de tudo, fazendo plantão esportivo. Depois passei a ser repórter esportivo e um dia a Bandeirantes teve uns problemas. Eles precisaram de um repórter e eu fui emprestado pela Rádio Piratininga para trabalhar para a Bandeirantes. Eles gostaram e me levaram, eu fui para São Paulo.

Poços Já: O senhor já era apaixonado por futebol ?

Chico de Assis: Eu fiz quatro Copas do Mundo. Eu já estava no futebol desde que comecei. Então eu sempre me dediquei ao futebol. Foi aqui em Poços de Caldas que eu passei a fazer geral, reportagem. Lá em Prudente tinha dois times: a Prudentina e o Corintina. Eu gostava era dos times da cidade.

Poços Já: A sua primeira Copa do Mundo já teve o Brasil campeão.

Chico de Assis: Eu fui cobrir a Copa do Mundo pela Bandeirantes, no México. O Brasil foi tricampeão mundial. Foi a melhor Copa que eu poderia ter visto na vida. Fiquei quarenta dias lá. Fizemos uma farra. Marcou demais.

Poços Já: Como era a sua relação com os jogadores?

Chico de Assis: Era muito diferente de como é hoje. Hoje, infelizmente, o repórter se submete a não poder nem fazer perguntas mais contundentes porque depende dessas entrevistas. Antigamente não tinha isso. O repórter tinha personalidade e o próprio jogador se interessava em dar entrevista. Ele queria aparecer. Hoje não. Não dá entrevista, atende mal, o repórter já também não sabe, com todo o respeito, perguntar. “E aí fulano? Acabou o jogo, zero a zero. Foi bom pra você?” Antigamente a coisa não era desse jeito. Nós fazíamos perguntas contundentes, perguntas duras para o jogador responder.

Poços Já: Como o senhor foi convidado para ir para a TV?

Chico de Assis: Eu fui pra Rádio Bandeirantes em 1964, quando terminei o Tiro de Guerra. Em 1967 a Bandeirantes montou a televisão e estava fazendo teste para as pessoas que poderiam participar da equipe esportiva na televisão. Fizeram teste com muita gente.  Colocaram alguns outros repórteres e, no final das contas, preferiram tirar o Chico de Assis que trabalhava na rádio e levar para a televisão. Eu fiquei lá o resto da minha carreira. Foi bom. Foi uma época muito boa da minha vida.

Poços Já: Tem uma foto sua com o Chacrinha na recepção da rádio. Como foi isso?

Chico de Assis: Foi uma época em que o Chacrinha foi para a Bandeirantes. Naquele dia tinha uma entrevista para fazer com o Vicente Matheus. Me pediram para ir lá fazer a entrevista com o Vicente, porque o Chacrinha não entendia nada  de Vicente Matheus. Eu fui e tiraram essa foto.

Poços Já: Como que o senhor chegou em Poços de Caldas?

Chico de Assis: O João Saad, que era o dono da Bandeirantes, teve que vender algumas rádios. Ele nos ofereceu a Rádio Cultura de Poços ou a Rádio Clube de Bauru. Nós preferimos Poços de Caldas, não sei por quê. Talvez por simpatia, eu passei minha lua de mel aqui e assim por diante. Foi uma boa compra.

Eu comprei a Rádio em 1973, mas nós ficamos em São Paulo trabalhando, o Flávio e eu. Em 80 eu me transferi para cá, eu me mudei e ainda fui fazer a Copa do Mundo de 82.

O programa "Conversa com o Povo" é um dos mais tradicionais do rádio poços-caldense.
O programa “Conversa com o Povo” é um dos mais tradicionais do rádio poços-caldense.

Poços Já: Como era a Rádio Cultura no início?

Chico de Assis: O rádio, de um modo geral, era muito difícil. Se um almofadinha batesse o carro você não podia noticiar. Se noticiasse ele ficava bravo, se tivesse o anúncio queria tirar e assim por diante. Eu dei muito murro em ponta de faca. Eu me recordo que uma pessoa que sofreu muito nesse sentido foi o Eduardo Paiva. Foi um dos melhores repórteres policiais que eu conheci, de modo geral, na crônica. Ele era muito bom de serviço. Gostava de dar a notícia. Ele fazia aqui o plantão policial, que já tinha na época. Depois ele faleceu, suicidou-se. Foi um momento difícil para nós, porque ele era muito participativo na rádio. Foi quando eu lancei o Antônio Carlos Pereira, no lugar do Eduardo Paiva, fazendo o Clube do Disco, de manhã, na Rádio Cultura.

Poços Já: O seu casamento já tem 48 anos. Como que é manter a união por tanto tempo?

Chico de Assis: Eu acho que para você manter um casamento, de praticamente 50 anos, tem que ter muita concessão. Alguém tem que fazer concessão. E no meu caso, quem faz as concessões, quem administra os problemas de relacionamento, é a minha mulher. Por isso é que eu vivo bem, porque ela é uma grande companhia.

Poços Já: E como que vocês se conheceram?

Chico de Assis: Conheci a minha mulher eu tinha 14 anos em Presidente Prudente. Temos uma vida juntos (neste momento a neta entra na sala, com um cachorro, e sai depois do avô dizer que está ocupado).

Poços Já: A família também está muito presente aqui na rádio.

Chico de Assis: Sim, essa minha netinha tem dez anos e já fala no rádio. Ela já tem um comercial que ela faz. Tem a Flavinha, que é minha filha, que já tem 40 anos e trabalha comigo também. E o meu filho fez Ciências da Computação, morou em São Paulo alguns anos, depois casou com uma moça daqui e em São Paulo teve alguns problemas de sequestro. Aí nós resolvemos vir embora e a família ficar toda aqui. Minha família é pequena. Tenho dois filhos, uma neta e uma nora.

Poços Já: O que exatamente aconteceu em São Paulo?

Chico de Assis: Em São Paulo tem sequestro a toda hora. Teve dois sequestros e a minha nora também. São Paulo é uma cidade difícil de viver. Isso deixa a gente preocupado. Ninguém quer morrer, né? Todo mundo quer ter saúde e sorte, já dizia a música.

Poços Já: Quando o senhor começou aqui em Poços, já tinha o Conversa com o Povo?

Chico de Assis: Não me chame de senhor não (risos). Eu que criei o Conversa com o Povo. Foi uma criação interessante. O José Aurélio Vilela foi um grande prefeito. Ele começou na prefeitura, só tinha crítica e ele não tinha como se defender. A situação aqui em Poços de Caldas era muito forte na época. Ronaldo Junqueira, a família Junqueira de um modo geral, e os Navarro. Um dia, o Aurélio me chamou e falou: “Preciso que você arrume um espaço para a administração se defender. Eu não quero que você fale bem, quero que tenha um espaço para os meus secretários se defenderem quando houver um ataque”.

O Flávio Araújo deu a ideia de fazer esse programa, o Conversa com o Povo, trazer uma autoridade, fazer uma entrevista mais longa. O programa deu certo, tem 33 anos no ar. Já criou raízes profundas.

Poços Já: Já faz parte da cultura de Poços.

Chico de Assis: Eu acho que já faz. A Rádio Cultura é diferenciada porque tem 81 anos. São nove a menos do que o rádio. É uma rádio participativa, que dá o microfone para todo mundo que quer falar. Claro que cada um tem a sua responsabilidade. A pessoa que está falando também tem que ter responsabilidade. Por isso que nós temos um relacionamento muito bom entre o ouvinte e a Rádio Cultura.

Poços Já: Como era ser dono de uma rádio em plena ditadura?

Chico de Assis: Aqui em Poços de Caldas eu não tive nenhum problema desse tipo, mas em São Paulo eu tive. Pra você ter ideia, tive que ir no Dops (Departamento de Ordem Política e Social) tirar carteira para frequentar o treino da seleção brasileira, tamanha era a fiscalização, a dificuldade para trabalhar.  Mas na vida, você se acomoda a tudo. Consegue resolver todos os problemas. Eu fiz o meu trabalho normalmente, mas a seleção brasileira era dirigida por milico. Não tem mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe.

Poços Já: Como você vê hoje o relacionamento da mídia local com o poder público?

Chico de Assis: A prefeitura tem a sua verba para ser distribuída e todo mundo quer a verba. A rádio tem dono e o dono tem que ser responsável pelas coisas. Então acaba também caindo na roda viva. Como? Sendo usado pelo município em termos de mídia. Mas ser usado em termos de mídia é uma coisa. Ser usado em defesa, para falar bem, é outra coisa. Temos por lema o seguinte: não fazemos nenhuma censura ao que o ouvinte fala. Claro que se ele falar um palavrão no microfone nós não vamos deixar. Mas se vier aqui e fizer uma crítica ponderada, vai ser ouvido a qualquer momento.

Poços Já: Há a intenção de mudar a Rádio Cultura para FM?

Chico de Assis: Em 2013 foi assinado o decreto para isso ser implantado, mas até hoje não conseguiram. Aqui em Minas Gerais foram 174 emissoras, e nós também, que pediram para migrar para o FM. Mas, como está atrasado muito, eu fico na dúvida. O rádio de AM realmente passa por problemas, porque tem muita rádio AM e muita interferência.

Poços Já: A internet é uma aliada?

Chico de Assis: A internet hoje é um suporte para a rádio extraordinário. Se você está no Japão, está ouvindo a Rádio Cultura. Então nós temos ouvintes para todo lado, por causa da internet. Agora mesmo, no meu telefone, se eu quiser, eu pego a rádio. O rádio teve na internet um extraordinário veículo para divulgar a emissora. Foi uma muleta muito boa, se é que eu posso dizer assim.

Poços Já: Vocês chegam em um público que não ouve o rádio com o aparelho.

Chico de Assis: Ouve o rádio pela internet. A grande vantagem é que pega no mundo inteiro (pega o celular e mostra o aplicativo funcionando). É ótimo o som. É esse em qualquer lugar.

Poços Já: A programação da Rádio Cultura está mudando, com a alteração de Jovem Pan para a Itatiaia. Por quê?

Chico de Assis: A Jovem Pan vai fazer a “Jovam Pan News”, não vai ter mais música e vai funcionar 24 horas só com notícias. Eles queriam que, dessas 24 horas que eles transmitem, nós déssemos 22 para eles e ficássemos com duas. Eu não posso dar a Rádio Cultura para a Jovem Pan. Estamos recebendo algumas críticas, porque as pessoas não sabem, achem que eu estou tirando a Jovem Pan. Vamos mudar para a Rádio Itatiaia, de Belo Horizonte e vamos viver mais o estado de Minas Gerais. Foi a única saída que nós tivemos.

Poços Já: Estou vendo na parede que você recebeu várias homenagens da Câmara.

Chico de Assis: Sim, eu já recebi o título de cidadão poços-caldense, diploma de mérito profissional  e honra ao mérito. Já fui bem homenageado. Os três títulos que a Câmara dá eu tive a oportunidade de receber. E sem puxar o saco de vereador.

Poços Já: Não só a Câmara te tornou cidadão de Poços, mas você também se considera poços-caldense.

Chico de Assis: Confesso a você que sou mais mineiro e poços-caldense do que paulista e prudentino. Eu vivo aqui, tenho minha família aqui, pago os meus impostos aqui e sou muito bem tratado. O povo me adora. Tenho hoje setenta anos e estou colhendo o que plantei aqui, quando me propus a vir pra cá.

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