Quem atenta para as mudanças ao seu redor há de convir que os sinais de evolução e de progresso estão por toda parte. Construções de todos os tamanhos, reformas prediais, novos loteamentos, demolições e reconstruções. Os veículos automotores já não cabem nas ruas, tamanha é a sua quantidade. Todos querem ter o seu e os Centros de Formação de Condutores estão lotados.
Uma fatia cada vez maior da população consegue ter a casa própria e até o carro próprio. As viagens turísticas, especialmente as viagens aéreas, aumentaram em quantidade e duração. Visitas ao exterior, ainda que sejam ao exterior mais próximo como Argentina e Chile, já são possíveis a grande parte da população.
A evolução na qualidade de vida do povo é visível e palpável. O desemprego é mantido em níveis baixíssimos. Ainda longe de ser considerada ideal, a distribuição de renda sofreu sensíveis melhoras. O acesso à educação gratuita, nas escolas federais, deixou de ser um privilégio somente das classes mais abastadas.
Contudo, mesmo diante de tantas novidades, muitas injustiças sobrevivem, agredindo o bom senso geral. Dias atrás eu li num jornal diário da internet que os vinte e sete governadores da federação estão se unindo para tentar diminuir o reajuste do piso salarial dos professores da educação básica. Eles assinaram e entregaram um documento ao governo federal em que pedem que o aumento para o próximo ano fique em cerca de 7%.
Segundo eles, o piso atual, de R$ 1.567,00, que não é pago integralmente por alguns estados, já causa dificuldades nas folhas de pagamentos. Com os aumentos vindouros, de acordo com os governadores, ficaria difícil para eles cumprirem os compromissos. O Executivo Federal quer dar o reajuste de 2014 com base no gasto por aluno no Fundo Nacional de Manutenção e Desenvolvimento da Educação (Fundeb), que seria de 14%.
Neste dia que antecede o dia dedicado aos mestres, o dia 15 de outubro, a atitude dos governadores me veio à mente novamente. É difícil acreditar que, mesmo diante de tantas evoluções na economia do país, governantes possam fazer complô para reduzir o aumento de salário dos professores.
O esperado seria que, diante de tantas necessidades da nova ordem, com o Brasil ocupando o posto de sexta economia mundial, a educação fosse a menina dos olhos dos governantes em todos os níveis. Sabemos que não há como sustentar crescimento econômico sem a devida formação da mão-de-obra.
Já está provado e comprovado que a espinha dorsal do crescimento é a educação de qualidade, acessível para todos. E não há como ter educação de qualidade sem a devida remuneração, formação e valorização dos seus agentes condutores, que são os professores e técnicos educacionais.
Assim sendo, acho injustificável a atitude dos governadores. Nosso consolo é que no próximo ano teremos eleições. Como formadores de opinião, os professores devem se lembrar que seria muito bom escolher e divulgar os candidatos comprometidos com a educação e com a valorização dos trabalhadores do setor.
Como não se ouve propostas sérias para o setor, são poucas as esperanças de mudanças no curto prazo. Mas, sem dúvida, elas virão somente pela via política. Por isso, é importante que a classe se mobilize, a exemplo do que vem acontecendo no Rio de Janeiro e em São Paulo. Uma mobilização nacional, unificada e coerente, é o único meio de mostrar as terríveis discrepâncias existentes na educação do país.
E é dever de todos nós, pais e alunos, nos solidarizarmos com os professores neste momento crucial para o Brasil. As eleições do próximo ano são uma ótima oportunidade para discutir e resolver esse impasse que se arrasta lentamente ao longo da história do Brasil.
*O autor é engenheiro florestal.