Caros amigos e leitores, o mundo no qual vivemos sempre nos trouxe muitas interrogações acerca da nossa própria existência, e nos dias atuais tem nos levado a refletir e questionar sobre o nosso papel aqui e o sentido que atribuímos ao nosso viver. Atualmente, muito nos é oferecido mas quase nada nos satisfaz. Parece mesmo que vivemos uma crise de valores, pois tudo tem se transformado em consumismo e valor de troca. É possível fazer um paralelo simbólico, à medida em que a moeda sobe, o “valor sentimental” cai. Podemos falar mais sobre isso em outra ocasião, pois o que nos importa entender no contexto aqui abordado, é que tal movimento parece nos causar certo vazio, ocasionado em partes por essa ausência de valores, o que acaba por nos transformar em seres com ausência de sentido. Na procura de preencher essa ausência, esse vazio, como já dito, muito nos é oferecido: prazeres momentâneos e passageiros, representados por compras compulsivas e desenfreadas, uso e abuso de drogas, satisfação de desejos corporais a qualquer custo, etc. Produtos e mais produtos, que serviriam pra facilitar a vida e nos trazer luxo, acabam por ser mais uma tentativa frustrada em meio a depressões, ansiedades, neuroses e outros sofrimentos psíquicos.
Isso tudo nos leva a questionar: qual realmente é o sentido da vida? Ao que parece, muitas vezes, ser uma pergunta sem resposta, então passamos a colocar a culpa desse vazio existencial na própria vida, alegando que é a vida que não têm sentido. E aí as coisas se tornam muito angustiantes e perigosas, pois se não há sentido na vida, qual o sentido de se viver?
No entanto, a maior dificuldade do homem sempre foi exatamente buscar preencher tais vazios com coisas exteriores, de fora do sujeito. Ora, como preencher com coisas exteriores um vazio que é, essencialmente, interior? Parece uma substituição um tanto quanto absurda e arcaica, no entanto, é exatamente o que fazemos. Trata-se de um recurso quase animal que o ser humano – tão senhor de si e de sua inteligência – pratica pensando ser a única solução.
O processo de amadurecimento, ou maturação, como certos pensadores o descrevem, sem dúvida passa pela experiência interna do sujeito, a experiência de sentir e vivenciar o próprio vazio que é, a priori, muito intima e particular de cada indivíduo. E estar em contato íntimo com si próprio é primordial para o bem-estar psíquico do sujeito. Isso não significa não sentir-se vazio, pois até mesmo o vazio tem seu lado positivo. E aparentemente, ele é inerente ao próprio ser humano. Mas significa se colocar em contato com o próprio vazio, tentar reconhecê-lo, acolhê-lo e entender o motivo de sua existência. Resumindo, o bem-estar psíquico não se trata de não ter sofrimento – pois uma hora ou outra, todos iremos sofrer – mas sim de saber como se posicionar e agir diante dele.
E isso significa também entender que, ao contrário do que pregam muitas telenovelas e propagandas publicitárias, coisas exteriores não podem preencher um vazio interior (incluindo pílulas e comprimidos), produtos não podem diminuir o sofrimento psíquico, e o sentido da vida não mora fora do sujeito, mas dentro dele.
Fato: o sentido da vida não está na vida em si, mas dentro de cada um. A própria procura por sentido já configura um sentido, e é preciso perder o medo de enfrentar o próprio vazio existencial, pois no fundo desse vazio podemos encontrar quem realmente somos, a essência do nosso ser. E quando encontramos o nosso ser, encontrar um sentido à vida se torna tarefa cotidiana, banal.
*O autor é psicólogo
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Conveniado Unimed – IASM