A decisão de ter filhos com certeza não é das mais simples. Existem pessoas que sonham em ser pais desde a infância, mas não era o meu caso. Não saberia dizer que ponto me convenceu a decidir pelo “sim, quero ser mãe”. Confesso que meu maior temor sempre foi o mundo como está, a violência, o desamor, a instabilidade em que vivemos atualmente. Mas, um belo dia, uma colega de trabalho me perguntou: se você pudesse escolher vir ao mundo mesmo do jeito que está, você viria? Não precisei nem pensar: sim, eu viria!
Muitos pontos podem ser analisados até essa decisão, mas acredito que o maior deles é o desprendimento, para a mulher principalmente. Não porque ela é quem cuida mais. Hoje os pais estão muito presentes e só não podem amamentar. O caso é se desprender do seu corpo, da sua rotina, do seu sono, de você. Alguém me disse uma vez que não sabe se teria filhos, por ser muito egoísta. É um forte argumento.
Decidido pelo sim, é importante saber que os cuidados se iniciam até mesmo antes de engravidar. Se for planejado, o primeiro passo é procurar o médico e realizar vários exames . Além disso, deve-se tomar ácido fólico, atualizar as vacinas e ficar mais atenta à alimentação, tudo com orientação médica.
A conversa com o médico pode acalmar e esclarecer muitas dúvidas. Existem estudos afirmando que a dificuldade para engravidar pode estar ligada a ovulação irregular, o que pode ser melhorado com uma alimentação rica em fibras, vegetais e frutas.
Depois disso, começamos a fazer parte do grupo que está “tentando” e, caso você resolva comunicar esse fato a amigos e familiares, prepare-se. Perguntas indiscretas surgem a qualquer hora do dia. O fato é que a tranquilidade é o melhor remédio, enquanto que a ansiedade pode atrapalhar. Apesar disso, é quase impossível controlar. Todo mês ficamos aguardando o dia. Por incrível que pareça, aguardamos ansiosamente pelo dia da menstruação, mas para que ela não apareça!
Para mim, aconteceu quando eu desencanei. Disse a mim mesma que a hora não seria a minha mas, com certeza, seria a hora certa. Bom, certo dia a menstruação não apareceu. No meu caso (que tenho o ciclo regular), um dia de atraso era meio caminho andado. Como guardamos segredo que estávamos “tentando”, queríamos muito espalhar a noticia, mas era necessário ter certeza.
Conversei com um colega médico que me examinou e se reservou a orientar que eu esperasse uns dez dias para fazer o exame de sangue. DEZ DIAS????!!!! Seria uma eternidade. Antes, lógico, não me contive e fiz o teste de farmácia: deu negativo! Dei aquela desanimada e pensei que deveria ser psicológico (certa vez, quando nasceram muitas crianças ao meu redor, tive uns sintomas psicológicos, na época nem pensava em ter filhos).Dentre os vários sintomas que podem aparecer, estão inchaço nos seios, náusea matinal, fadiga e micção frequente, mas somente o último me pertencia.
Passados os eternos dez dias, fiz o exame de sangue… Só ficaria pronto às dez horas, eram sete e meia… Nessas longas horas, passei por uma saia justa. Encontrei uma amiga que me perguntou quando eu pretendia ter filhos e eu respondi com um sem nexo “daqui a pouco”.
Fomos eu e meu marido buscar o resultado, imaginando que estaria escrito positivo ou negativo. Mas não.. meu marido nervoso leu no valor de referência: ausência de beta HCG e afirmou que eu não estava grávida. Fiquei chateada e disse que ia ligar pra médica, pois algo devia estar errado. Na verdade, ele deveria ter lido o resultado em que constava presença de beta HCG e foi o que fez segundos depois. Ficamos na dúvida, estou ou não estou??? O jeito foi correr pra médica e pedir à secretária que decifrasse o exame. Foi muito bom quando ela disse: Sim, você está grávida.
Ufa!!! Hoje eu sei que o beta HCG é um hormônio produzido na gravidez e aparece de dez a quinze dias após a concepção. E então, com a confirmação, é agradecer e aproveitar os próximos nove meses para se acostumar com a ideia, pois, como já dito, acredito que pra tomarmos a decisão de sermos pais, é necessário, entre tantas coisas, DESPRENDIMENTO. Realmente não existimos mais, pelo menos por um tempo, como seres individuais. Os pensamentos mudam. Aquele ser que está em formação é agora o centro do mundo.
*A autora é advogada e funcionária pública.