Vou começar este texto com uma grande e estrondosa gargalhada. Já, já eu explico o motivo. Há, há, há, há, há; há, há, há, há… Mais um pouquinho, porque não é todo dia que temos pretexto para rir desbragadamente: há, há, há, há… Toss, toss, toss… Opa, quase engasguei de tanto rir… Há, há, toss, toss…
O motivo de tanto riso é simples: dias atrás, cientistas americanos da Purdue University (Indiana, US) anunciaram que conseguiram promover a invisibilidade na transmissão eletrônica de dados, durante bilionésimos de segundo. O feito foi conseguido manipulando feixes de luz de um lado para outro, criando “buracos no tempo”. Ah, como eles estão atrasados! Coitados! Aqui no Brasil alguns especialistas já fazem isso há muito tempo.
Só que aqui os “cientistas” se especializaram em fazer desaparecer dinheiro público. Milhões, bilhões de dinheiro público. E, além de torná-lo invisível, eles o fazem aparecer em outros países. Não é um prodígio? O dinheiro viaja milhares de quilômetros, totalmente invisível, reaparecendo em contas bancárias dos paraísos fiscais.
E esta aberração é absurdamente tolerada pela população. Quando vejo na televisão a tremenda baderna instalada por causa de um aumento no preço das tarifas de ônibus nas grandes cidades, eu fico a pensar: o que é que move tais pessoas que brigam por vinte centavos e se calam diante do desaparecimento de bilhões de reais através da corrupção?
Valores infinitamente maiores são “desaparecidos” continuamente e todos se calam. Exemplos marcantes são as suspeitas que pairam sobre a construção e a reforma de estádios para a copa do mundo de futebol, a ser realizada no próximo ano aqui no país. Valores que seriam suficientes para construir três estádios são gastos para reformar apenas um deles. São obras faraônicas, cuja utilidade prática após a copa, em alguns casos, é extremamente duvidosa.
O pior disso tudo são as justificativas para tais eventos. Declarações oficiais afirmam continuamente que a principal vantagem será a melhoria significativa na mobilidade de uma forma geral e nos transportes aéreos. Mas o que vemos são atrasos e mudanças que já prejudicaram totalmente a conclusão das obras a tempo de atender a demanda da copa do mundo, daqui a um ano.
Aliás, a infraestrutura não atende nem mesmo as necessidades imediatas da população. Nossos portos são insuficientes para escoar a produção agrícola e industrial, as estradas inadequadas e até inexistentes tornam o “Custo Brasil” um dos principais fatores da baixa competitividade das exportações; nossos aeroportos não atendem nem mesmo à demanda local. E por aí vai.
Enfim, pelo que se vê na atualidade, muitas das obras estruturais previstas para a copa não serão terminadas. Servirão apenas para a inescrupulosa “captação de recursos” através de contratos milionários dos governos com as construtoras. E no meio disso, muitos bilhões de reais serão cobertos pelo “manto da invisibilidade” e desaparecerão pelo ralo da corrupção.
Enquanto isso, nas grandes cidades, o povo briga por poucos centavos. Se conseguíssemos barrar o escoamento dos recursos pela corrupção, não seria necessário brigar por valores tão ínfimos. Sobraria dinheiro para investimento em mobilidade urbana, para transformar a educação e para pagar melhor aos professores, dentre outras coisas importantes para o desenvolvimento do país.
Mas, como já está estabelecido, o povo brasileiro adora circo e não se importa com o resto. Principalmente o circo do futebol, que ganha cada vez mais importância por aqui. E a nossa participação no espetáculo é muito maior do que se imagina. Se prestarmos bastante atenção ao nos mirarmos no espelho, veremos que nossos narizes tem a ponta vermelha, característica principal dos palhaços.
*O autor é engenheiro florestal.