Maria Flor nasceu. Com uma pressa danada. Quase um mês antes do tempo. Não sei exatamente a razão dessa pressa. Parece que tem alguma coisa muito importante para fazer aqui. Deve ser isso, com certeza. E tem mais: ela queria vir antes, bem antes. Dois meses antes da hora ela já ameaçava nascer para explorar este mundo maluco. Não foi fácil para a mãe segurá-la mais um pouco. Como disse, estava com uma pressa danada de viver esta vida terrena que, quase sempre, não é o que desejamos. Mas pra ela há de ser. Há de ser tudo de bom!
Essa menina com a flor no nome, nascida no dia dois de abril, é a minha primeira netinha. E me fez reviver toda a emoção do nascimento dos meus filhos. A Naninha, mãe da Maria Flor, nasceu em 1981 e o João Luiz, cinco anos depois e quase no mesmo dia de novembro. Ela no dia sete e ele no dia dez.
E me fez reviver também os mesmos medos de anos atrás. Medo das crises econômicas pelas quais passamos periodicamente. Medo das ditaduras que, até hoje, nos ameaçam constantemente. Medo da violência que, parece, só faz aumentar. Medo de que a vida os magoasse como magoou a mim. Enfim, medo de que o mundo piorasse ainda mais.
Mas o nascimento da Maria Flor ainda me fez reviver um medo muito exclusivo: eu tenho medo de pegar no colo crianças recém-nascidas. Elas me parecem tão frágeis, tão sensíveis que, sinceramente, tenho medo de quebrar.
Acho que é pela minha falta de jeito. Vivo a derrubar coisas e a esbarrar em tudo. Por isso, com meus filhos também foi assim. Eu só os peguei no colo depois que tinham mais de três meses de vida. Nessa idade os bebês já estão mais firmes e estáveis no que concerne ao equilíbrio.
No entanto, mesmo assim, ainda ficava com medo. Medo de quebrar. Acho que agora, com a Maria Flor, o medo está maior. Ela parece ainda mais frágil na sua pequenez de prematura. Uma vidinha tão pequenininha que dá medo. Mas o medo é mais intenso por causa da minha instabilidade.
A vida é muito sábia. Quando mais jovens, enfrentamos corajosamente os nossos medos e os vencemos com facilidade. Com a idade avançando os desafios vão diminuindo e, consequentemente, a coragem também. Mas já não há tanta necessidade de enfrentarmos nossos medos para provar coragem a ninguém. Não, não há! As necessidades mudam com a passagem dos anos. Nesta idade, depois de cruzar mais de meio século de turbulenta existência, aos trancos e barrancos, já dá para conviver com as angústias e os medos, novos e antigos, bem naturalmente.
Principalmente com alguns deles que nos perseguem a vida toda e se renovam de tempos em tempos. Ainda bem – mesmo! – que as alegrias também se renovam periodicamente. E um dos maiores júbilos dos últimos anos foi o nascimento da Maria Flor. Pra ser sincero, creio que não esperava ser vovô. Ou, melhor dizendo, não esperava viver o tanto necessário pra ser vovô. Foram tantos percalços, tantos obstáculos, que não esperava viver o bastante para ver o nascimento dos netos. E é uma imensa felicidade estar aqui para poder ver a Maria Flor.
Não sei se vou estar aqui para ver outros netos… eu bem que gostaria! Se não estiver, que fazer? Como disse lá no começo, a vida neste mundo nem sempre é o que desejamos…
*O autor é formado em Engenharia Florestal, com pós-graduação em Informática na Educação e Gestão Ambiental.