A ex-senadora Marina Silva esteve em Poços de Caldas na noite desta quinta-feira, 23. Ela participou do Congresso Nacional de Meio Ambiente, onde ministrou uma palestra sobre sustentabilidade e ativismo autoral. Antes de começar a participação no evento, Marina concedeu uma entrevista coletiva. Ela fez um panorama da questão ambiental no Brasil, explicou o conceito de ativismo autoral, criticou a mineração no sul de Minas e falou sobre a importância da educação ambiental. Leia os principais trechos:
Brasil
Marina Silva: O brasil tem um potencial muito grande para fazer a mudança de modelo de desenvolvimento. Sair do modelo insustentável, que é a característica de todas as economias do mundo, para um modelo sustentável. Mas infelizmente isso não tem sido priorizado como parte da nossa agenda de desenvolvimento. A maior parte das ações é feita no velho diapasão do final do século XIX e do século XX, que nos leva a uma economia de alto carbono, com uma pressão muito grande sobre recursos naturais, recursos hídricos e biodiversidade. E com um peso muito grande na destruição das florestas, como vemos agora, com a mudança que aconteceu no Código Florestal Brasileiro.
Para iniciar uma nova maneira de caminhar, o Brasil vai ter que fazer investimentos a médio e longo prazo, para sermos um país da energia limpa e segura. Nós temos um potencial enorme para energia solar, energia eólica, de biomassa. Na realidade do Brasil, não é conveniente a energia nuclear. Ela é cara e não é segura. Não se sabe o que fazer com os resíduos e se coloca em ameaça a vida da população que fica próxima a esses depósitos.
Sustentabilidade
Marina Silva: Eu falo muito da ideia de sustentabilidade nas suas diferentes dimensões: econômica, social, ambiental, cultural. E reforço a ideia de que desenvolvimento sustentável não é apenas uma maneira de fazer. É uma maneira de ser, uma visão de vida, um ideal de mundo. A sustentabilidade requer uma ação de todos, não apenas de um grupo, de um partido, de uma pessoa. É um esforço que deve ser de todos ao mesmo tempo: governos, empresas, cidadãos de um modo geral.
Ativismo autoral
Marina Silva: Ativismo autoral é uma ideia que eu espero que vai mudar a política nesse início de século. Porque nós somos herdeiros do ativismo dirigido pelos partidos, pelos sindicatos, pelas corporações, pela academia, pelas lideranças carismáticas. E com o surgimento da internet há lugar para esse ativismo exercido pelas pessoas, onde são autores e mobilizadores das suas próprias causas. O ativista autoral tem essa característica de não ter, nem à frente nem atrás, alguém lhe dirigindo. Ele é o autor e o mobilizador da sua própria ação.
Sul de Minas
Marina Silva: Eu sempre estou recebendo denúncias e relatórios em relação à questão da mineração. E há uma queixa muito grande em relação ao que isso produz de danos ambientais, que são democratizados para todas as pessoas, enquanto os lucros são privatizados para poucos. E o estado se beneficia muito pouco do ICMS ou do que quer que seja. Porque, como diz José Fernando (ex-deputado federal pelo PV), são royalties miseráveis e com isenção fiscal para essas atividades.
E como a mineração é uma safra que só dá uma vez, ela precisa ser trabalhada com critérios de sustentabilidade, mas rendendo o máximo de benefícios aonde for possível por essa exploração, para o conjunto da população. E sem prejuízo de preservar os recursos de milhares de anos pelo lucro de apenas algumas décadas.
Educação ambiental
Marina Silva: Nós temos uma lei de diretrizes e bases da educação que estabeleceu a educação ambiental como obrigatória em todos os níveis do processo de ensino-aprendizagem, e que seja um conteúdo transversal. Essas novas gerações vão poder insistir na ideia de que educação é o que há de mais importante para viabilizar esse novo modelo. É a educação que gera novas oportunidades, igualdade de oportunidades, a busca de novas ocupações, novos produtos, novos materiais. E a educação ambiental como conteúdo transversal pode alavancar uma série de percepções que geralmente a gente não tinha na educação no passado.