Prezados leitores, hoje o tema em questão é a felicidade. Parece simples, mas não se engane; existe uma polêmica grande a respeito do tema.
Desde que nascemos ouvimos, de nossos pais e avós, contos e fábulas que, via de regra, tem finais felizes. A frase “e viveram felizes para sempre” talvez seja a oração mais repetida em histórias de fantasia. Crescemos nesse conceito e ainda na vida adulta – através de filmes, novelas e livros – somos rodeados pela idéia fantasiosa da felicidade eterna. Obviamente, se trata de fantasia e nada mais. Como já dito no artigo anterior, “É proibido ficar triste”, a tristeza também é uma condição humana. Absolutamente ninguém é capaz de ser feliz o tempo todo, ou para sempre.
De um ponto de vista filosófico e/ou psicanalítico, somos dependentes dessas ideias fantasiosas, desse “ideal” de felicidade eterna. Em parte, para lidarmos com a frustração de que jamais conseguiremos esse ideal. Nesse caso, a fantasia substitui a realidade concreta, tornando-se mera e simples ilusão. A realidade, infelizmente, é bem mais trágica que um conto de fadas.
No entanto, imagine como seria terrível ter que encarar essa realidade o tempo todo. Seria, talvez, uma frustração maior do que o ser humano poderia suportar. A fantasia, nesse contexto, assume um papel importante: é uma reguladora, nos permite sonhar, dar cores a uma vida que muitas vezes se passa em preto e branco. Mas temos que ter muito cuidado, pois isso também pode se tornar perigoso; viver o tempo todo na fantasia nos faz perder o contato com a realidade. Trata-se de um equilíbrio: quem olha demais para o céu pode acabar tropeçando em uma pedra ou caindo em um buraco; contudo, quem olha muito para o chão à procura de pedras e buracos, os encontra, mas acaba perdendo a beleza e a poesia que o céu pode proporcionar.
De fato, a existência humana não é baseada na felicidade, mas na luta (e no luto), na dúvida, na responsabilidade e nas consequências de nossas próprias decisões. Filósofos mais melancólicos disseram e dizem que a vida humana está condicionada pela morte, e nada mais somos a não ser seres vivendo para morrer. Por isso a importância fundamental de darmos um sentido à vida. Como diria o grande psiquiatra existencial Viktor Frankl: “Para quem tem um porquê, qualquer como é suportável”.
Essa frase, dita já há algum tempo, nunca foi tão atual. Fato: não só de comida vive o homem. O homem também vive da esperança em algo mais. Essa verdade está firmada na Bíblia, no Alcorão, no Mahabharata, ou em qualquer outra obra histórica de cunho espiritual. Vejamos alguns países Africanos. A Etiópia é um exemplo popular ou, para não irmos tão longe, vejamos nossos vizinhos haitianos. Vivem uma situação de total pobreza, e quando vemos fotografias dessas pessoas chega a dar aperto no coração. São pele e osso e muitas vezes se alimentam de sopa de terra com sal. Isso prova que o que mantém o ser humano vivo não é a comida. É a esperança em uma vida melhor. E isso é prova da importância de se buscar um sentido para vida.
Portanto, não sejamos tão pessimistas. Apesar de toda essa ilusão de “felicidade para sempre”, se opondo da realidade nua, crua e cruel, é possível criar condições, não para ser feliz, mas para estar feliz. É fundamental cuidar do nosso bem-estar físico, mental e social, e podemos falar sobre isso em uma próxima oportunidade. Faz-se necessário encontrar um sentido pra vida. Mas se porventura você ainda não encontrou esse sentido, nada está perdido. A própria busca pelo sentido pode ser determinante para o bem-estar existencial, já dizia a compositora Ana Carolina ao cantar “a minha procura, por si só, já era o que eu queria achar”. O fato é que a própria procura por sentido já tem sentido em si só, e isso está ao alcance de qualquer ser humano na face da terra, pobre ou rico, são ou louco, tranquilo ou desesperado, triste ou alegre, acompanhado ou só. O sentido da vida não está na vida, mas sim em nós mesmos.
O autor é psicólogo.
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