O sol nasce sempre no nascente e se põe no poente. O verão sempre vem após a primavera. E o outono antes do inverno. Existem coisas que são imutáveis na natureza. Mas existem muitas outras coisas que mudam constantemente. E são totalmente previsíveis. É aí que entra a interpretação ambiental, metodologia capaz de antever tais mudanças.
O meio natural, em toda sua complexidade, dá sinais evidentes do que vai acontecer no futuro, imediato ou remoto. Observando e analisando estes sinais é possível cuidar da prevenção ou promover a aceleração dos processos de degradação. Sequências de pequenos episódios determinam os acontecimentos próximos e posteriores.
Estes sinais podem ser interpretados com atenção ou totalmente ignorados. Na maioria das vezes são simplesmente ignorados. Principalmente por parte do poder público. E assim os problemas ambientais vão se acumulando em muitas cidades.
Podemos tomar como exemplo as inundações em áreas urbanas, que acontecem sempre que começam as chuvas de verão. Apesar de sempre observarmos a tentativa de culpar a chuva pelas inundações, os culpados são os moradores que invadem as áreas de domínio das águas e os administradores municipais que permitem que isso aconteça.
Reiterando, a ocupação de áreas inundáveis é culpa da população que o faz, mas a permissão para essa ocupação é dada pelos administradores que, por vezes, até doam terrenos nessas áreas, mesmo tendo pleno conhecimento de que esses locais não são adequados para a construção civil.
Em virtude desses desmandos absurdos, todos os anos assistimos de camarote aos tristes eventos decorrentes da exploração da boa vontade das pessoas de menor poder aquisitivo, que são os maiores prejudicados.
Se essas pessoas, antes de construir, pudessem consultar profissionais capacitados para interpretar as condições do local escolhido, certamente muitos eventos trágicos seriam evitados e muitos prejuízos materiais não existiriam.
Mas isso é um sonho para as condições brasileiras. As áreas de risco urbanas (limites inundáveis e encostas), na verdade, costumam ter utilização eleitoreira. Terrenos impróprios para construção civil são doados, impiedosamente, para pessoas de baixa renda.
E a deficiência de esclarecimento da população, em virtude da falta de educação ambiental (e geral), faz com que muitas pessoas incautas coloquem ali as economias de todas as suas vidas. Mais cedo ou mais tarde a chuva vai levar tudo embora, deixando prejuízos irreversíveis e tristezas imensas.
O que mais revolta é saber que tudo isso pode ser previsto e evitado, poupando vidas humanas e preciosos recursos materiais, além das verbas públicas quase sempre mal utilizadas. Para isso, sabe-se muito bem, só precisamos de vontade política para resolver definitivamente os problemas.
Temos que ter em mente que na natureza muitas coisas que acontecem podem ser previstas e evitadas. Contudo, na maior parte do tempo, ninguém dá bola para esses cuidados preventivos. Os imensos recursos utilizados anualmente para socorrer os atingidos deveriam ser usados para prevenir as tragédias.
Mas não é assim. Para a corrupção institucionalizada, que comanda a grande parte das ações públicas no país, é melhor remediar do que prevenir. Isso dá mais dinheiro para os corruptos. E assim se perpetuam os velhos e insolúveis dilemas do povo brasileiro.
*O autor é formado em Engenharia Florestal, com pós-graduação em Informática na Educação e Gestão Ambiental.